terça-feira, 31 de julho de 2012

Capítulo 6 - Parte 1

Capítulo 6: A Capa Negra

Parte 1: Perigos da Noite


Os fugitivos já estavam viajando pela noite por quase uma hora, a visibilidade da estrada era pouca. As copas das árvores que ladeavam a estrada não permitiam que a luz da lua iluminasse propriamente o caminho à frente. A única luz que poderia ajudar a guia-los pela escuridão era dos dois lampiões que estavam acoplados ao lado de fora da carruagem, um de cada lado do condutor.

 - Ela está dormindo desde que começamos a viagem. – disse Maxwell preocupado com a irmã.
- Deve ter sido muito cansativo para a princesa ter passado esses dias dentro de uma cela e também essa fuga... – olhava para Moira, que estava sentada ao lado e com a cabeça apoiada em seu ombro, dormindo.
- Eu gostaria de saber como ela fugiu e também... – fez uma careta de preocupação – Por que aqueles homens na entrada do castelo estavam mortos?
- Vossa Alteza sabe que esta fuga vai causar muitos problemas para o seu pai. – mudou de assunto, enquanto afastava a cortina e olhava para o breu da noite pela pequena janela.
- Eu sei. – abaixou a cabeça – Mas eu não posso deixar a Moira em um lugar em que foi presa por algo que não fez. E se eu ficasse no castelo ela também ficaria. – fitou o rosto sereno e pálido de sua irmã.
- A princesa importa-se muito com Vossa Alteza. – sorriu, mas de repente sua expressão mudou completamente, como se houvesse visto algo perturbador.
- Senhor Dário? Algo de errado? – Maxwell ficou preocupado.
- Sim...

No mesmo instante em que ele respondeu, um alto estrondo foi ouvido e sentido. Algo havia se chocado contra o teto da carruagem, fazendo-a tremer. A princesa acordou de sobressalto, sem saber o que havia ocorrido.

- O que aconteceu? – ela perguntou assustada.

Um segundo som mais fraco aconteceu e Maxwell viu um vulto passar pela janela indo na direção oposta à carruagem, quando se aproximou do vidro da janela pôde perceber o que havia acontecido:

- Siro! – ele apontou para fora em pânico.

O vulto que ele havia visto tinha sido seu guarda sendo arremessado para longe.

- Siro!? – Moira, que estava do outro lado, curvou o corpo sobre Dário para tentar ver pela mesma janela – Mas ainda estamos em movimento... – estava sonolenta.
- Temos que sair daqui...  Dário sussurrou.

Mal havia acabado de sugerir a fuga, outro estrondo veio de cima de suas cabeças, mas desta vez fora algo totalmente diferente. Duas largas lâminas curvas atravessaram o teto. Não eram longas o suficiente para chegar até os passageiros do transporte, mas aquele ataque repentino vindo do nada havia os assustado. A princesa jogou-se para o banco à frente e abraçou seu irmão, preocupada com ele. Mais um ruído alto aconteceu, e a estrutura da carruagem se abalou. As armas então foram puxadas de volta para cima, deixando apenas duas finas aberturas no teto.

Dário levantou-se e deu um chute na porta forte o suficiente para arrancá-la, em seguida pendurou-se na borda do teto e subiu em cima da carruagem, desaparecendo da visão dos irmãos.

- O que ele foi fazer? – Maxwell perguntou para a irmã, em um sussurro, apavorado com a situação em que estavam, entretanto a jovem não respondeu, pois não tinha uma resposta.

O vento gélido ainda adentrava com vigor pela abertura da porta e fazia seus corpos tremerem de frio. Ambos estavam encolhidos no canto, com a irmã mais velha tendo o corpo curvado sobre o menino. Parecia tentar o proteger.

Os dois puderam ouvir vários passos sobre suas cabeças mesclados com o som das rodas girando sobre o chão de terra, mas não sabiam o que estava acontecendo nem mesmo quem estava ali em cima. Mais alguns passos e a princesa percebeu que estavam perdendo velocidade.  O som dos cascos dos cavalos batendo no solo estava ficando distante. Alguém havia os desprendido do coche.

Batidas e sons metálicos mais fortes aconteceram e então tudo ficou silencioso até o carro parar por completo. Moira esperou alguns segundos e então levantou a cabeça e soltou Max, tentando enxergar o lado de fora para descobrir o que havia acontecido. Foi a tempo suficiente de ver Dário pular de cima da carruagem para o chão, ação que a pegou de surpresa e a assustou.

- Estão bem? – perguntou erguendo-se do chão e virando para a porta da carruagem, estava ofegante.

A jovem princesa apenas acenou positivamente com a cabeça, enquanto mantinha seus olhos azuis arregalados sobre o cavalheiro.

- Quem estava lá em cima!? – Maxwell falava rápido, quase atropelando as palavras, estava nervoso, o coração batia rápido e a respiração também havia se alterado – E Siro? Precisamos voltar e busca-lo!
- “Aquilo” que nos atacou não estava seguindo ordens do duque, estou certa? – Moira se manifestou, tão alterada quanto seu irmão mais novo.
- Desçam. – disse secamente, pela primeira vez seu semblante não demonstrava confiança – Por favor. - se aproximou e estendeu a mão para Moira, que o obedeceu e segurou sua mão, descendo da carruagem seguida por seu irmão.
- Vamos atrás de Siro? – ela perguntou em um sussurro.
- Olhe! – Max apontou com a mão trêmula em direção a estrada à frente.

Podia-se ver alguém parado logo à diante, depois da carruagem, iluminado pelas fracas luzes das lamparinas que se encontravam em frente ao carro, dando uma aparência espectral a figura. Parecia vestir uma longa capa negra com capuz que cobria completamente seu rosto, nas mãos tinha duas grandes adagas curvas, cravejadas com algum tipo de pedra vermelha e detalhes em dourado. Eram armas que os irmãos jamais haviam visto antes.

- O que você quer? – Dário perguntou com um tom de voz bastante alto e imponente, mas não recebeu resposta alguma da estranha figura.

De repente o encapuzado levantou o braço esquerdo e o dobrou a frente do corpo, segurando a adaga ao contrario, parecido com o modo que Alan empunhava sua arma.

- Corram. – Dário mandou, apontando para a floresta – Corram!

Sem saber mais o que pensar ou fazer, a princesa pegou seu irmão pelo braço e o puxou para dentro da floresta, correndo exatamente como o cavalheiro havia dito, mesmo não sabendo para onde ia.

- Nós vamos nos perder! – Maxwell falou alto, já não conseguia controlar o tom de voz, nunca havia ficado tão assustado em sua vida.
- Fique quieto! – a princesa, mesmo apavorada, tentava o conduzir bravamente por entre as árvores da floresta tomada pela escuridão.

Os dois correram por mais uns dez minutos até Moira ficar exausta e parar, jogando-se de joelhos no chão e deixando os ombros e cabeça caírem para frente.

- Moira! – seu irmão ajoelhou-se ao seu lado e pousou uma das mãos sobre suas costas.
- Estou... Cansada demais... – murmurou, completamente sem fôlego.
- É melhor você descansar. Acho que já nos afastamos bastante.
- Não sei o que está acontecendo... – continuou falando baixo enquanto tentava recuperar o fôlego – Por que fomos atacados?
- Talvez... Talvez fosse um ladrão de estrada... – o príncipe também tentava entender a situação em que haviam entrado – Mas e o que faremos agora? Estamos perdidos no meio de uma floresta à noite...
- Perdidos... Floresta... – Moira repetiu as palavras do irmão em um murmúrio, olhou à sua volta e seu corpo começou a estremecer.

Ela apoiou a cabeça entre as mãos e começou a gemer, havia entrado em pânico.

- Não Moira. – abraçou sua irmã com força, tentando fazê-la parar de tremer – Esqueça isso! Estou aqui com você!

Seus olhos estavam arregalados e vidrados encarando o nada, como se estivesse presenciando a mais horrenda cena.

- Não... Posso... – tentava falar, mas não conseguia , estava petrificada de medo de algo que só ocorria em sua mente.
- Moira! Estou com você! – tentou chacoalhar o corpo rígido da irmã.

Imediatamente ela caiu de lado sobre o peito do irmão. Ele percebeu que o corpo da princesa havia amolecido e estava relaxado. Moira desvaeceu em seus braços.

Foi então que Maxwell percebeu que estava praticamente sozinho, segurando o corpo de sua irmã que havia desmaiado na escuridão de uma floresta desconhecida e a mercê dos perigos da noite.


Continua...

Natalie Bear

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Capítulo 5 - Parte 4

Capítulo 5: Primeiro Erro

Parte 4: Liberdade


A jovem princesa assustada subiu rapidamente a escada que dava para o segundo andar do castelo de Sobbar, tentando não fazer muito barulho enquanto atravessava o corredor, indo em direção ao quarto do irmão.

- Vossa Alteza? - Siro estava surpreso de ver Moira se aproximar, pois sabia que ela havia sido presa.
- Senhor Siro, eu não tenho tempo para explicar, mas vou precisar de sua ajuda. - olhou em volta - Onde estão os outros dois?
- Estamos revezando. Eles estão descansando no alojamento para os soldados no momento.
- Não teremos tempo de ir atrás deles... – suspirou com indignação - Por favor, acorde o príncipe e diga que precisamos sair agora. Peça para ele vestir roupas adequadas para o frio. Enquanto isso - apontou para o corredor – Eu vou trocar de roupa.
- Vocês estão fugindo? - a voz masculina e sedosa vinha de trás da princesa e a pegou de surpresa.

A pergunta havia feito o coração de Moira pular com o susto. Ela virou-se rapidamente, mas já havia o reconhecido antes de ver o rosto dele.

- Dário... - estava desconfiada do filho do marquês, não sabia como ele reagiria.
- Será que posso ajudá-los? - perguntou com um sorriso enfeitando seu belo rosto.
- Eu ficaria muito grata por usa ajuda. - deu um sorriso amarelo - Venha comigo.

Os dois seguiram pelo corredor até chegarem à porta do quarto da princesa.

- Espere aqui fora e vigie para mim, por favor. - tinha no rosto uma expressão quase suplicante quando fez o pedido.
- Sim Vossa Alteza. - arqueou rapidamente o corpo.

---

Dez minutos depois Moira já havia trocado seus trajes por outros mais quentes e limpos e estava pronta para a fuga que planejava, só precisava encontrar Maxwell e Siro e finalmente fugir daquele inferno.

- Vamos buscar eles e sair.
- E o que Vossa Alteza fará sobre os guardas que ficam na porta do castelo? - perguntou Dário com seu tom de voz despreocupado que quase sempre usava.
- Primeiro precisamos ver quantos homens estão guardando os portões. - respondeu e dirigiu-se rapidamente para o caminho de volta, não querendo perder mais tempo.

Quando Moira aproximou-se da porta do quarto de seu irmão, ele e Siro já estavam do lado de fora esperando.

- Moira! - disse em uma mistura de alegria e preocupação.
- Não grite. Não podemos chamar a atenção de ninguém. - tocou o ombro dele.
- Desculpe. Mas... - hesitou por um instante - Você tem certeza de que quer fazer isso?
- Sim. - respondeu com convicção.
- É melhor irmos. - Dário se adiantou, liderando o grupo pelo caminho até a saída.

Os quatro desceram a grande escadaria, passaram pelo salão e chegaram até a antessala que precedia o cômodo em que os portões se encontravam.

- O que aconteceu aqui? - perguntou Siro alarmado ao ver alguns guardas do duque estirados no chão, todos mortos de maneira violenta.

Tanto o príncipe quanto sua irmã ficaram assombrados com a visão daqueles cinco infelizes homens sobre suas próprias poças de sangue, já sem vida alguma. O sucessor do trono jamais havia visto tantos mortos juntos.

- Parece que a saída está livre. - respondeu Dário parecendo não estar muito surpreso com o que haviam encontrado - Melhor sairmos antes que mais alguém apareça. - explicou e se adiantou até os portões que já estavam abertos.

Ambos os filhos de Lucius pareceram, por alguns instantes, congelados de medo em ver o fim que aqueles homens tiveram. Apesar de estar assustada com a visão, Moira já imaginava o que havia acontecido, mas preferiu não mencionar nada. Quando os dois estavam atravessando os portões seguidos por Siro que cuidava da retaguarda, o príncipe finalmente fez a pergunta que estava o deixando inquieto.

- Como você saiu daquela cela? - lançava um olhar preocupado para sua irmã.
- Vamos falar sobre isso em outro momento. Precisamos nos concentrar na fuga. - Moira estava muito nervosa, temendo que algo desse errado e eles fossem pegos.

Estavam no jardim, seguindo os passos de Dário que ia à frente para ter certeza de que não encontrariam ninguém. Quando já conseguiam ver a estrada principal à distancia ele parou, obrigando os outros a fazerem o mesmo.

- Se vamos embora daqui é melhor levarmos conosco alguns cavalos... Pelo menos dois.
- Já estamos fugindo e ainda vamos ter de roubar? - Moira era contra a ideia.
- Vamos demorar muito para chegar a qualquer lugar se formos a pé. – Dário respondeu parecendo muito sério- E um dos cavalos do celeiro é o meu.
- Ainda há as carruagens com as quais viemos. – Siro se manifestou, tentando manter-se calmo diante da situação.
- Excelente! – a jovem princesa pareceu se animar.
- Eu vou até lá para ver se o caminho está livre. – disse Dário – Esperem aqui, por favor. Se estiver tudo bem mandarei um sinal. – e correu para o celeiro antes que pudessem protestar, deixando-os escondidos perto da esquina de uma das paredes externas do castelo.
- Se houverem guardas por lá o senhor Dário correrá perigo! – Maxwell estava muito nervoso com a fuga, pois ele dificilmente fazia algo de errado.
- Não podemos fazer nada agora. – respondeu Moira, escondendo sua preocupação.

Os três esperaram em silencio por mais de dez minutos. Siro vigiava a região em volta deles, esperando não encontrar ninguém, pois raramente as pessoas dali saiam durante a noite.

- Ele está demorando muito! – o príncipe não conseguia conter sua impaciência.
- Acalme-se Max.  Moira, que estava sentada ao lado passou delicadamente sua mão pela cabeça do garoto, tentando acalmá-lo.

O vento gelado que soprava naquela hora estava os deixando com muito frio. Ambos o príncipe e a princesa estavam recostados na parede externa do castelo, encolhidos por causa da baixa temperatura. A respiração deles criava uma fraca nuvem de vapor em frente a seus rostos.

- Estou vendo ele! – disse Siro, apontando para além da parede do castelo – Está acenando para irmos até lá!

Maxwell foi o primeiro a se levantar e correr até seu guarda, já Moira estava exausta, esforçou-se para levantar e caminhou até os dois quase arrastando os pés. Siro conduziu os dois irmãos até Dário, que os esperava na entrada do celeiro com o costumeiro sorriso nos lábios.

- Você encontrou a carruagem? – perguntava Maxwell esperançoso.
- Sim Vossa Alteza. – apontou para o outro lado do celeiro, à sua esquerda – E eu deixei já pronta do lado de fora. – sorriu.
- Oh. Obrigado! – agradeceu e rumou para o transporte seguido de Siro.

Moira os seguiu bem mais devagar. Passou próxima da porta entreaberta do celeiro e teve uma quase incontrolável vontade de dar uma espiada, temendo que algo houvesse acontecido ali também. O cheiro ruim do celeiro parecia se misturar com outro diferente que ela não era capaz de identificar. Chegou perto da abertura e inclinou levemente o corpo para frente, tentando ver algo na escuridão. Quando seus olhos começaram a se acostumar àquela escuridão algo a interrompeu:

- Vossa Alteza.

A princesa estava tão concentrada que ao ouvir a voz de Dário, sobressaltou e virou rapidamente em sua direção, com o coração disparado.

- Acredito que precisamos nos apressar. – continuou, estendendo o braço em direção ao caminho até a carruagem.
- O senhor tem razão. – engoliu sua curiosidade em seco e dirigiu-se até o transporte. Quando os dois alcançaram o coche, viram que à sua frente, com a guia que ligava os quatro cavalos em mãos, estava Siro gesticulando para que entrassem rapidamente. O jovem príncipe já estava dentro e também abanava pedindo para que fossem até ele.  Dário ajudou Moira a subir e em seguida também entrou, dando o sinal para Siro iniciar a viagem e olhando brevemente para fora antes de fechar a porta da carruagem.

Os quatro seguiram viagem pela estrada noturna esperando que a fuga os levasse de volta para Sempterot e que os afastasse dos perigos que Moira julgava correr enquanto hospedados no castelo do duque.


Capítulo 5: Fim

Natalie Bear

terça-feira, 24 de julho de 2012

Capítulo 5 - Parte 3

Capítulo 5: Primeiro Erro

Parte 3: Estranha Lealdade


Mais um dia e meio se passou. Moira e Alan continuavam presos no calabouço do castelo do Duque de Sobbar. A jovem e aflita princesa ainda não havia encontrado a grande ideia que a tiraria daquela cela fétida e seu tempo estava acabando. Logo não teria mais opções senão aceitar a proposta de Dominus.

Moira havia falado algumas vezes com seu irmão nesse tempo, entretanto Maxwell também não havia encontrado outra solução nem conseguido convencer o duque. Estava tudo dando errado.

Já fazia vários minutos que o guarda estava na ponta do corredor, próximo à escadaria que levava para o andar de cima, assoviando uma melodia desafinada e irritante- A princesa já não aguentava mais aquele som agudo ecoando pelas paredes do calabouço.

- Será que poderia parar com esse ruído chato? Você é completamente desafinado! Aceite isso e feche a boca.
- Ainda reclamando? Você fala tanto que nem esse seu rostinho é capaz de fazer um homem querer você! - gritou de onde estava em resposta a reclamação da jovem.
- Do que está falando, seu porco! - esbravejou batendo com as mãos nas as barras de metal.
- Eu não vou ficar aqui discutindo com você, sua vadia! - respondeu e subiu as escadas, assoviando.
- De novo utilizando esse palavreado!!? Seu bastardo mal-educado! - cerrou os punhos e bateu algumas vezes no metal da porta.

Finalmente se cansou e resolveu sentar, abraçando as pernas e apoiando a cabeça sobre os joelhos, posição que usava muito naquela situação. Acalmou-se e voltou a se concentrar, tentando incessantemente encontrar a resposta que precisava enquanto trançava seus cabelos. Porém o tempo continuava correndo.

- Nada. Só me ocorre a ideia de aceitar a proposta e depois encontrar uma maneira de fugir dele... - sussurrou consigo mesma - Mas ele quer se casar imediatamente para me impedir de fugir... - suspirou.

Um som de batida contra algo de metal muito alto se alastrou pelo ambiente, seguido de um leve estremecer das paredes e barras da cela da princesa, a assustando e tirando sua concentração. O som se repetiu mais uma vez.

- O que...? - Moira levantou-se e colou o rosto nas barras, tentando ver o que estava fazendo o som, mas não era nada em seu campo de visão.

A batida aconteceu uma terceira e uma quarta vez.

- O que está acontecendo aqui? - o carcereiro desceu novamente as escadas até o calabouço, irritado com o som.

A pancada contra o metal foi ouvida pela quinta vez. A princesa ficou calada, observando o que acontecia.

- Ei você! Pare ou eu vou aí quebrar todos os seus ossos! - bateu com sua espada na porta da cela de Alan, produzindo um som agudo diferente dos que haviam sido ouvidos antes.

Moira ouviu a sexta pancada e desta vez também teve a impressão de ver algo pequeno e brilhante saltar contra a parede do outro lado do corredor, próximo a uma tocha que iluminada pobremente o local. No momento seguinte viu pelo canto do olho a porta da cela de Alan abrir bruscamente e se chocar contra o carcereiro, derrubando-o.

Enquanto o homem, atordoado com a pancada da porta, tentava se levantar, a princesa viu o forasteiro sair da cela e rapidamente pegá-lo pela cabeça, levantando-o do chão e batendo seu crânio contra a parede. Uma. Duas. Três. Quatro colisões contra as pedras repletas de quinas formadas pelo modo inconstante com que haviam sido lapidadas. O carcereiro, mesmo sendo maior que Alan, não teve chance de se defender. Gritou de dor na primeira e na segunda vez, mas depois era apenas possível se ouvir o som de sua cabeça se chocado contra a parede.

A jovem princesa ficou tão chocada com toda aquela violência que não havia se dado conta do fato mais importante naquele momento. Alan tinha escapado de sua cela.

O agressor soltou a cabeça do carcereiro, deixando-o cair no chão, assim permitindo que Moira pudesse ver que o crânio havia sido esmagado de forma brutal. Alan abaixou-se até o cadáver e pareceu tirar algo que estava preso no cinto dele, em seguida voltando-se para a cela em que a princesa estava presa, deixando-a apavorada.

Enquanto Alan andava na direção da porta da cela de Moira, ela deu vários passos para trás segurando com força as mãos contra o peito e respirando de forma acelerada, temendo que ele lhe fizesse o mesmo que ao outro homem. O forasteiro levantou o braço e a princesa pode ver o que ele havia pegado do carcereiro. Era a chave de sua cela. Ela viu a mancha de sangue estampada na roupa de Alan, enquanto ele girava a chave no cadeado que trancava a porta. A visão a deixou ainda mais nervosa. Um último giro da chave e o cadeado se abriu. No mesmo momento o forasteiro levantou rapidamente os olhos cheios de frieza e fitou os de sua princesa, conseguindo ver todo o medo estampado em sua expressão. O homem assustador então tirou o cadeado da porta e a abriu, em seguida ajoelhando-se e curvando o corpo demostrando sua submissão àquela jovem.

Moira ficou respirando fundo por alguns minutos, tentando absorver o que estava acontecendo e lutando para se desfazer de todo o horror que havia paralisado seu corpo. Fitava o homem diante de si, ajoelhado e de cabeça baixa, se esforçando para voltar à racionalidade que acabara de perder.

Quando começou a se recuperar, uma das primeiras informações que a jovem princesa conseguiu absorver era de que Alan não estava usando a manopla com garras de metal, nem o cachecol desbotado que sempre estavam com ele. Deviam ter os removido quando o prenderam ali. Apenas depois desse pensamento ela se deu conta de que finalmente estava livre e, indo contra todas as reações que acabara de ter, sentiu um grande alívio. Seu corpo parecia ter se livrado de um grande peso.

- Por... - respirou fundo, tentando encontrar as palavras que queria - Se poderia ter feito isso o tempo todo... Por que demorou tanto? - sua voz era apenas um sussurro - Não pense que só porque abriu esta cela você será libertado da pena de morte.

Após o aviso de Moira o sujeito se levantou e fez um gesto com a mão, convidando-a para lhe acompanhar, enquanto mantinha os olhos voltados para o chão. A princesa, que reagiu ao primeiro movimento dele recuando, depois do convite deu alguns passos para frente, mas parou ainda longe. Alan retornou para o corredor e foi até o corpo estirado no chão, abaixando-se novamente e tomando-lhe a espada que havia sido usada para bater contra as barras de metal. Depois de adquirir o item continuou pelo corredor. Moira estava o seguindo de longe e quando chegou perto do cadáver do carcereiro, deu uma breve parada, fechou os olhos e levantou a perna, lançando-a para frente dando o passo mais largo que conseguia, atravessando sobre o homem e continuando o caminho.

Ao subirem a escada chegaram a uma antessala e depois encontraram mais um lance de escadas que dava para uma sala maior onde havia, além de alguns armamentos como lanças e espadas, mais dois dos guardas de Dominus, responsáveis pela pequena prisão no calabouço, embora não descessem como o homem que acabara de ser morto.

A princesa ficou alguns degraus abaixo na escada, enquanto via Alan se esgueirar pela sala sem produzir som algum, como um fantasma. Os dois homens estavam de frente para a porta do outro lado do salão conversando, desatentos ao perigo que os rondava. O forasteiro andou sorrateiramente até as costas do sujeito que estava à esquerda e enterrou com violência a espada em suas costas, atravessando-o. O homem a direita espantou-se com o acontecimento repentino e jogou a mão em direção do cabo da espada presa em seu cinto, entretanto o movimento tinha sido lento demais. Antes que conseguisse desembainhá-la, Alan havia arrancado a lamina de sua espada do outro guarda e rasgado a garganta do que tentara reagir. Apavorado, o homem segurava seu pescoço desesperadamente enquanto o sangue escorria por entre seus dedos em grande quantidade e manchava toda sua armadura de couro. Não demorou muito para que ele caísse no chão já sem vida.

Diante da cena brutal, Moira não sabia se ficava grata por aquele homem estar do seu lado ou horrorizada por sua bestialidade. O modo com que ele tirava a vida de alguém parecia tão normal. Tão simples.

Após se livrar de seus adversários facilmente, Alan abaixou a arma e girou a cabeça na direção da escadaria em que a princesa estava esperando-o. Moira demorou um pouco até resolver subir os últimos degraus e atravessar a sala, mas tentava manter uma distancia que julgava segura entre ela e o forasteiro. Os dois percorreram um corredor e chegaram ao salão principal que estava vazio e escuro- Só poderia ser noite.

Alan virou para a direita e dirigiu-se até a grande escadaria que levava ao segundo andar, começando a subir os degraus, quando Moira chamou sua atenção:

- Espere! Por que está subindo? - manteve a voz baixa para que ninguém a ouvisse.

Atendendo ao pedido da jovem, ele parou no meio da escadaria, mas se manteve de costas para ela, esperando por algo.

- Você ainda quer assassinar o duque? É por isso que está indo para o andar dos quartos? - suspirou - Você deveria esquecer isso. Já causou problemas demais.

Não houve nenhuma resposta de Alan. Ele nem mesmo se moveu.

- Já que se deu ao trabalho de me tirar daquela cela eu vou lhe dar uma chance. Permitirei que fuja, mas você não deverá nunca mais voltar, senão irá ser preso mais uma vez e executado. - tentou ser firme, mesmo estando assustada - É uma ordem.

O forasteiro continuou na mesma imobilidade por mais dois ou três minutos até que virou-se e desceu os degraus que havia subido, passando de cabeça baixa pelo lado de Moira e seguindo o caminho que dava para fora do castelo. A princesa agora estava sozinha a casa do homem que considerava seu inimigo e precisava pensar no que faria à seguir.


Continua...

Natalie Bear

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Capítulo 5 - Parte 2

Capitulo 5: Primeiro Erro

Parte 2: Reação em Cadeia

Com tudo que havia acontecido, não era uma surpresa que a situação chegasse a tal nível.

- Levem-na para a masmorra! - gritou o duque, cercado de seus guardas.
- Como!? - Moira havia sido pega de surpresa pelo grito dos homens que cercavam ela e seus dois guardas.
- Foi você quem deu a ordem para o meu assassinato!
- Do que está falando?? - a princesa estava assustada, enquanto seus guardas colocavam-se em volta dela, tentando a proteger de mais de dez homens que se colocavam em volta dela.
- Eu vi você conversando com ele antes da caçada, lhe dando a ordem para me atacar! E ontem também, você o fez nos seguir! - esbravejava, apontando para ela como se fosse uma de suas empregadas que tentara roubar algo de sua casa.
- Duque, você está louco! Tire esses homens de minha volta agora! - também elevou o tom de voz apreensiva.
- Matem os dois e levem-na lá para baixo! - deu a ordem final e virou-se para ir embora.
- Não faca isso! - finalmente a jovem havia ficado apavorada.

Seus dois guardas tentaram a proteger, mas estavam em bem menor numero e acabaram sendo brutalmente mortos pelas lanças e espadas na frente da princesa aterrorizada.

- - -

- É tudo, tudo sua culpa! Seu imbecil! O que pensava que estava fazendo?? Como achava que iria sair impune dessa situação? - Moira gritava enquanto sentada sobre o chão sujo e gelado da pequena cela em que estava presa.
- Será que você pode calar um pouco a boca, mulher escandalosa! - disse o carcereiro, perdendo a paciência com ela.
- Cale a boca você, seu verme! Eu sou a filha do rei de Colinas de Cristal! - esbravejava externando toda a fúria que dominava seu corpo.
- E eu sou o rei de Terrarubra! - o guarda debochou.
- Eek!! Por que essa cela tem que ser tão nojenta e fedorenta! Será que não limpam nada aqui?? - sempre cobria o rosto com a longa manga do vestido, fazendo sua voz sair abafada.
- Foda-se sua vadia maluca! - riu de uma maneira nojenta - Já é o segundo dia que está aí e ainda não parou de reclamar.

A princesa bufou extremamente irritada com o linguajar daquele homem.

- Quando me tirarem daqui, eu colocarei fogo nesse castelo e espero que todos queimem junto... - murmurou, cansada de gritar.

Alan estava sentado no chão de pedra, com as costas apoiadas na parede e os braços cruzados, pensativo, apenas ouvindo a conversa sem sentido dos dois, enquanto preso na cela ao lado de Moira.

- Alan. Você vai pagar caro por ter me colocado aqui. De onde tirou a ideia de que eu queria que matasse o duque? Eu nunca... - Parou a frase de repente, se lembrando de um único momento em que havia mencionado tais palavras... Em seu sonho.

Novamente ela bufou.

- Não faz sentido nenhum. - curvou o corpo, colocando as mãos sobre a cabeça - Não vá me dizer que você lê mentes! - gritou.
- Quem? Eu? - perguntou o guarda, novamente com seu tom de deboche.
- Não imbecil! Estou falando com o homem na outra cela!
- Você já está falando com ele há horas. Não tá vendo que o filho da puta não vai responder? - tinha a boca cheia da carne de coxa do pato que estava comendo.
- Urgh! Feche essa sua boca nojenta! – respondeu nauseada.
- Com licença? - uma voz suave veio da escadaria que conectava a masmorra com o resto do castelo.

Moira reconheceu imediatamente a voz e se levantou, agarrando as barras da porta da cela e tentando ver algo pelas aberturas.

- E você quer visitar os prisioneiros? - perguntou o carcereiro, um homem gordo e alto, com um rosto assustador.
- Senhor. Devo dizer que este é Vossa Alteza o príncipe de Colinas de Cristal. - Dário explicou sério.
- O Duque de Sobbar nos permitiu visitar a prisioneira. - explicou o jovem príncipe que parecia abatido.
- Podem descer. - respondeu com apatia enquanto subia o resto da escada, indo para o piso de cima e deixando os dois fazerem a visita.
- Moira! - Maxwell correu até sua cela.
- Max! - a princesa o recebeu com um grande sorriso de alívio, apesar de estar visivelmente melancólica - Vocês vieram me tirar daqui? - perguntou esperançosa, enquanto Dário também se aproximava da cela.
- Ainda não conseguimos convencer o duque de lhe libertar... - o príncipe assentou suas mãos sobre uma das de sua irmã que estava agarrada em uma barra da cela.
- Maldito seja aquele homem! - a alegria momentânea desapareceu de seu rosto, deixando apenas a melancolia prevalecer.
- Tenho certeza que conseguiremos tirar Vossa Alteza desta cela. - Dário esboçou um sorriso para Moira.
- Esse lugar é horrível. É nojento e escuro... - parecia estar próxima de chorar.
- A única providencia que conseguimos foi convencer o duque a vir falar com você. Talvez faça  um acordo para lhe libertar. – o jovem baixou a cabeça, tinha um tom de voz fraco.

A princesa arfou, deixando os ombros caírem para frente. Sabia que seria ainda pior ter de negociar sua liberdade com ele. Sabia que nunca seria livre nas condições dele.

- Moira. Foi você que comandou o ataque ao duque? - Maxwell fitou os olhos de sua irmã com angústia, esperando que ela realmente fosse inocente.
- É óbvio que eu não tive papel algum neste ataque! - tirou as mãos das barras, se afastando - Matá-lo enquanto estivéssemos aqui seria ruim para você. Sujaria seu nome e seu futuro como rei. - apertou as mãos contra o peito e manteve o rosto abaixado - Não quero ser responsável por algo assim.
- Prometo que você vai sair daí. - Max fitou sua irmã com confiança, precisava que ela acreditasse nele, afinal seria o futuro rei e precisava ser capaz de resolver a situação.

Moira tentou incentivar a decisão de seu irmão, sorrindo, mas a sua triste expressão não convenceria ninguém.

- Senhor Dário? - o jovem príncipe olhou para o lado e percebeu que seu amigo estava com a atenção voltada para a cela ao lado.

A cela em que Alan estava.

- Me chamou Vossa Alteza? - virou o rosto para ele com seu costumeiro sorriso estampado nos lábios.
- Você me ajudaria a soltá-la? - estava muito sério.
- Seria uma honra.
- Moira - o jovem e determinado príncipe voltou-se para ela - O duque deve vir aqui para conversar mais tarde. Tente não contrariá-lo ainda mais.
- Tentarei... Agora, por favor, volte lá para cima. Já basta um de nós neste lugar horrível. - implorava com o olhar.
- Seja forte Vossa Alteza. - disse Dário com um sorriso incentivador enquanto fazia uma reverencia para ela.
- Então aguente um pouco mais. Nós vamos voltar. - despediu-se e seguiu de volta pelo corredor úmido e escuro, mas antes parou na frente da cela de Alan e fitou-o, sentindo um pouco de rancor pelo que tinha causado a sua irmã.

O guerreiro encarcerado olhou-o de volta com a mesma frieza que sempre demonstrava. Era como se ele realmente não fosse abalado por nada, pelo menos foi o que o príncipe achou naquele momento. Não conseguia entender porque aquele homem havia atacado o duque, ele jamais tinha tentado fazer algo assim antes. O que havia feito Alan tomar aquela decisão?

---

Moira já havia perdido a noção de tempo naquele buraco escuro e úmido. Não sabia se lá fora era dia ou noite. O sol nunca chegava até lá e o frio daquela cela permanecia sempre igual. A sensação de não saber quanto tempo havia se passado estava a torturando tanto quando a podridão daquele lugar.

- É muito escuro... E se houver alguma criatura nojenta se esgueirando pelas várias sombras do local? - disse em voz alta, mesmo sabendo que só Alan estava por perto - O cheiro nunca mais vai sair do meu cabelo! - suspirou e fez uma pausa de alguns minutos - Por que decidiu atacar o duque? Por acaso foi pelo que presenciou naquele dia? Aquilo que eu disse para você esquecer? - ergueu a cabeça, tocando a parte mais alta do crânio na parede em que estava escorada - A vez em que falei sobre matar o duque... Só aconteceu na minha cabeça... Você estava falando! – curvou-se e apoiou a cabeça sobre os joelhos - Estou enlouquecendo e falando sozinha agora! - bufou.

Alguns minutos depois, enquanto a princesa se lamentava em silencio, ouviu um som de passos vindos da escada, não eram tão pesados quanto os do carcereiro. Só poderia ser outra pessoa. Aquele som a fez recuperar parte do animo, levantando do chão e indo até as barras de metal, tentando visualizar quem vinha.

O duque desceu a escadaria de pedra lapidada irregularmente e parou em frente à primeira cela, em que estava o homem que tentou o matar. Tinha em mãos uma bandeja de metal que sustentava um prato metálico parecendo bastante antigo, contendo um grande pão arredondado, e também uma caneca de água.

- Como está a estadia aí, assassino? - riu após proferir suas palavras de deboche.
-É apenas você... - disse a princesa, encostando a testa em uma das barras de metal.
- E você, minha noiva. - deu mais alguns passos pelo corredor, chegando à frente da cela dela - Queria livrar-se de mim? - fitou seus olhos seriamente - Você me desaponta assim. – franziu a testa.
- Não fui eu quem ordenou o ataque, mas é uma lástima que ele não tenha o matado. - a raiva podia ser facilmente percebida em seu tom de voz.
- O casamento será difícil se você ficar desejando minha morte com esta intensidade. – fitava o rosto de sua noiva, que, por mais que estivesse tomado pela ira, ainda era belo.
- Que casamento? Se não percebeu ainda, você me prendeu em uma cela! - elevou a voz andando de um lado para o outro.
- Vim aqui lhe trazer sua refeição - agachou-se e deixou a bandeja no chão em frente à cela - E também vim para lhe apresentar um acordo. - sorriu, ignorando toda a cólera que a jovem não fazia questão de esconder.
- Então diga logo qual é o acordo! – estava sem paciência.
- Se aceitar se casar comigo no mesmo dia em que for solta. O que acha disso? Eu irei lhe perdoar pelo que tentou fazer. – fitava profundamente os olhos de Moira.
- Não fiz nada! - esbravejou, gesticulando agressivamente as mãos.
- Então você pode ficar aí esperando que seu pai venha e ouça o que eu tenho para dizer. - deu de ombros - Será que ele vai dar a ordem de lhe libertar mesmo sabendo o crime que tentou cometer?
- Você é um louco! Para que ainda insistir em um casamento? Não era mais fácil apenas fazer o acordo de eu não contar nada do que aconteceu com o meu rosto em troca da liberdade?? - parou e ficou de frente para ele, cruzando os braços e o encarando.
- Eu já sei como minha noiva é. Vai encontrar um jeito de prejudicar minha imagem para o rei, não importa como. Tendo você por aqui cumprirei minha parte do acordo e poderei cuidar melhor desse seu gênio incontrolável. – sorriu maldosamente, ainda fitando seus olhos azuis e cheios de ódio.
- Você é menos estúpido do que eu imaginava... - desviou o olhar - Me dê algum tempo para pensar sobre a proposta – virou-se de costas para ele e apoiou as mãos sobre o ventre.
- O que há para pensar? - perguntou com aborrecimento.
- Apenas me deixe pensar! Eu preciso de... -pensou - Um ou dois dias para pensar. - estava contrariando sua vontade de sair de lá.
- Tanto tempo? Assim vou começar a acreditar que está gostando de ficar presa. - riu.
- Não se iluda duque! - baixou a cabeça e rangeu os dentes, enquanto voltava a andar de um lado para o outro da cela - Sempre irei encontrar uma maneira de me tornar livre!
- Que seja! - debochou com um sorriso de vitória em seus lábios finos - Estarei aqui de novo dentro de um ou dois dias, como você pediu. Aproveite seu tempo aí dentro. - curvou o corpo levemente, fazendo uma reverencia e se retirou, mas não sem antes lançar um olhar de superioridade sobre Alan ao passar por sua cela.

Moira esperou Dominus subir a escadaria e ir embora para finalmente voltar a se sentar no chão, apoiada nas barras de metal e recostada à parede. A bandeja com o pão e a agua estava bem ao seu lado, do outro lado das barras.

Ela suspirou, estava sem esperanças de que conseguisse fazer algo para sair dali antes do prazo que pediu.

- A situação é péssima... - murmurou - Assim não terei escolha senão aceitar a proposta do duque... - abraçou as pernas e deitou a cabeça sobre os joelhos, pensativa.

Após alguns minutos perdida em seus pensamentos, a princesa voltou a levantar a cabeça e olhou para a refeição que havia lhe sido oferecida.

- Não adianta. Não tenho apetite algum nessas circunstâncias... - esticou o braço para fora da cela e pegou a caneca, trazendo-a para dentro da cela e bebendo um gole.

Após o único gole de água, voltou a depositar o objeto sobre a bandeja enferrujada.

- Ei, Alan. - Elevou o tom de voz - Não lhe deram refeição alguma no tempo em que estamos aqui, estou certa? - não estava realmente esperando que ele respondesse - Quando eu sair daqui quero que você ainda esteja vivo, assim eu mesma poderei escolher a maneira como será executado. - novamente esticou o braço para fora e empurrou a bandeja para direção da outra cela, que estava apenas separada por uma parede de pedra fria - Então coma isso. E também pode beber a água.

Esperou por alguns minutos, observando o pedaço da bandeja que conseguia enxergar, esperando para ver se ele a pegaria, mas nada aconteceu.

- Agora não me ouve também? - aumentou o tom de voz - Não está com fome? Ou está tentando morrer dessa forma para evitar outro tipo de execução? - irritada por Alan não ter reagido, Moira atravessa o braço pela abertura entre as barras de novo e tenta empurrar a bandeja mais para frente da outra cela, forcando o corpo contra o metal frio - Pegue! É uma ordem! - o objeto já estava na ponta de seus dedos e seu braço não poderia ir mais longe.

De repente a princesa sentiu uma mão pousar sobre a sua, o que fez seu corpo estremecer. Um arrepio percorreu toda sua espinha. Mesmo que não conseguisse enxergar o fim de seu braço, sabia que só podia ser a mão de Alan sobre a dela. Puxou rapidamente sua mão de volta, assustada. Segurou a mão contra o peito, quase entrando em pânico com aquela ação repentina. Toques inesperados de pessoas que não fossem seus familiares sempre a deixavam naquele estado. Sentia o coração e a respiração acelerados, estava tão alterada que naquele momento não conseguiu dizer nada. Nem mesmo um sermão para a atitude do forasteiro.

Após se passarem alguns segundos de sua reação ao toque dele, Moira ouviu o som da bandeja sendo levemente arrastada. De sua cela já não poderia mais visualizar o objeto, não saberia se o sujeito havia ou não aceitado a comida, a não ser que tentasse puxar de volta, mas era algo que não faria, pois estava com medo de que ele a tocasse mais uma vez.

- - -

Dominus estava sozinho em seu escritório. Apenas uma vela tentava iluminar o local todo, mas falhava desastrosamente. O sujeito estava apoiado com os ombros sobre a mesa e com o olhar distante, pensativo. Tentava encontrar uma solução que o tirasse da enrascada que ele mesmo havia criado.

Seus pensamentos foram interrompidos pelo ranger da porta. Alguém estava entrando na sala.

- Dominus. Disseram que você trancafiou a princesa em uma das celas da masmorra. Você fez isso? – sua mãe, uma mulher cujo cabelo estava quase tomado pelo branco da idade, questionava-o apreensiva.
- Sim. É a verdade. Aquele homem com os olhos não naturais tentou me matar e ele estava associado com a princesa, foi ela quem deu a ordem para o ataque. – respondia sem olhar para a duquesa, mantinha-se focado nos papeis a sua frente.
- Foi a princesa? – estava surpresa – Mas meu filho... – caminhou lentamente até chegar ao lado da cadeira em que o duque sentava e pôs uma das mãos sobre suas costas – Por mais que ela seja culpada, prende-la não é a solução. – acariciou os cabelos escuros e cuidadosamente divididos de seu filho - Não esqueça quem é o pai da sua noiva. Ele pode ser tolo, porém, ainda assim, é o rei. – havia muita inquietação na voz da mulher.
- Eu estou ciente. – arfou, jogando os ombros para frente – Mas minha noiva estava começando a gerar muitos problemas. – cerrou os olhos, franzindo o semblante.
- Eu compreendo. Vou lhe apoiar nessa decisão, mas espero que não cause ainda mais problemas. – puxou a mão de volta para si, apoiando-a sobre o tecido negro de seu vestido – Agora vá dormir. Você precisa descansar. Não irá resolver nada dessa maneira.
- A senhora tem razão, eu preciso de uma noite de sono. – levantou-se da cadeira, arrumou meticulosamente a papelada sobre sua mesa e dirigiu-se até a porta.
- Tenha uma boa noite Duquesa de Sobbar. – fez uma reverencia e deixou sua mãe sozinha na sala.

Finalmente a mulher suspirou e deixou a ansiedade se manifestar em seu semblante. Estava muito preocupada com seu filho e naquele instante se arrependia pelo acordo que seu falecido marido havia feito com o rei. O pouco a mais de terra e apoio que haviam ganhado não valia tantos problemas, muito menos uma noiva que era quase como um animal selvagem. Não valia a possibilidade de acabarem perdendo o título de nobreza.


Continua...

Natalie Bear

terça-feira, 17 de julho de 2012

Capítulo 5 - Parte 1

Capitulo 5: Primeiro Erro

Parte 1: Um Som Conhecido


Finalmente havia chegado o dia que duque Dominus estava esperando, o dia da caçada. Este era um entretenimento muito comum para os nobres daquela região. Todos se preparavam adequadamente para o evento.

Moira aproximava-se dos guardas de Maxwell, que estavam um pouco mais afastados dos homens que se organizavam para a caçada, enquanto mantinha as mãos unidas sobre o ventre, como normalmente fazia.

- Tenho um aviso para dar a vocês. – passou os olhos sobre cada um dos quatro, parecendo mal-humorada – Se meu irmão voltar com algum arranhão eu mesma me encarregarei de ter certeza que os quatro terão o crânio dividido em dois – virou-se e olhou em direção ao duque que estava distante, de costas para ela.
- Lhe garanto que não acontecerá nada com Vossa Alteza o príncipe. – disse Siro, um homem de pouco mais de trinta anos e de olhos escuros atentos, inclinando-se para a princesa, fazendo uma reverencia.

Enquanto o guarda calvo respondia para Moira, Alan parecia ter seguido o movimento anterior dela e estava com sua atenção voltada em direção a Dominus, que conversava com Dário.

- Preste atenção no que estou dizendo! – puxou-o pelo cachecol desbotado com força, forçando-o a se curvar levemente para frente.

O estranho homem baixou a cabeça de forma submissa.

- Não tirem os olhos deles nem por um segundo. – tentava parecer irritada, mas não conseguia esconder a preocupação – Podem ir. – afastou-se dos guardas com seus passos tão delicados que custavam a amaçar o gramado em torno do castelo.

Enquanto os homens moviam-se até onde o príncipe, o duque e seu mais novo hóspede conversavam cercados por alguns dos subordinados de Sobbar. A princesa puxou novamente o manto de Alan, fazendo-o parar no meio do caminho.

O guarda virou-se para ela e teve o tecido em volta de seu pescoço puxado pela terceira vez, o que o fez se curvar para frente de novo, ficando quase da altura de Moira.

- Quanto ao que aconteceu ontem. - suspirou, abaixando a cabeça por um momento e logo se recompondo - Você não viu nada. A princesa jamais age daquela maneira. Você entendeu? - lançou um olhar fulminante.

Alan observou seu rosto por alguns segundos enquanto demonstrava um semblante mais suave do que aquele que normalmente vinha estampado em sua expressão. Ao perceber que Moira não havia gostado nem um pouco dele ter fitado seus olhos, acenou positivamente com a cabeça e abaixou os olhos em direção ao solo.

- Pode ir. - soltou o tecido desbotado deixando-o livre para ir até os outros que ainda conversavam despreocupadamente.
-... E Vossa Alteza sabe como manejar o arco? – perguntou Dário interessado na conversa.
- Eu ainda estou aprendendo, minha pontaria não é muito boa por enquanto. – deu uma risadinha tentando esconder o constrangimento que sentia.
- Aposto que é melhor que a do duque. – riu.
- Eu estou ouvindo isso Dário! - exclamou Dominus incomodado com o comentário.
- Vossa Graça. Não se preocupe, foi apenas uma brincadeira. - sorriu gentilmente.
- Está bem. Deixarei passar. - era difícil se opor a um sorriso de Dário.
- Já podemos nos preparar para seguir até o local? - perguntou o jovem carismático.
- Não. - respondeu irritado - Aquele homem está proibido de nos acompanhar. - apontou para Alan.
- Vossa Graça ainda está implicando com ele?
- Cuidado como você fala comigo, Dário. Tenho meus motivos para não levá-lo junto. -o nervosismo estava ficando visível em seu rosto.
- Já que o senhor Dominus insiste... - disse o príncipe, sem entender muito bem a reação do duque - Senhor Alan. O senhor está dispensado por enquanto.

O guarda fez uma reverencia, acatando as ordens de seu mandante.

- Esperem. - intrometeu-se a princesa, se aproximando - Se vão tirá-lo temporariamente da posição de proteger o príncipe então peço para que em seu lugar levem um dos meus guardas.
- Está tudo bem por mim. - Dominus respondeu indiferente.
- Mas e você Moira? Vai ficar apenas com um guarda para lhe proteger? - mais uma vez o príncipe preocupava-se com sua irmã.
- Não vai acontecer nada comigo. E se Alan irá ficar então estarei com dois guardas. - tentou acalmar Max.
- Então está bem. Eu irei aceitar o empréstimo. - deu um sorriso amarelo enquanto Moira escolhia um dos homens para acompanhá-lo.

Após a troca, os homens finalmente estavam prontos para a caçada.

- Já está tudo nos conformes, podemos partir. - Disse o duque indo direto para seu cavalo, um puro-sangue de pelo marrom brilhoso e bem cuidado.

O príncipe foi ajudado por Siro a subir em sua montaria, um belo animal de pelo negro.  Logo em seguida Dário e Siro montaram em seus respectivos cavalos. Os demais homens iriam acompanha-los a pé.

---

 A vegetação tinha mudado, a grama era mais alta e vários arbustos espalhavam-se por entre as árvores de diversas espécies que se estendiam mais afastadas umas das outras do que na região dos pinheiros.

- Esta parte da floresta é uma das melhores para se caçar. - explicou Dominus, mais animado do que costumava ser.

A caçada era uma das atividades que o duque mais apreciava.

- Vossa Alteza está nervoso? - perguntou Dário para o príncipe.
- É a primeira vez que venho para uma caçada. - respondeu baixinho para seu mais novo amigo - Lá em Sempterot não temos muito disso, meu pai não se interessa muito. E o senhor? - seus olhos demonstravam uma curiosidade infantil - Participa de muitas caçadas de onde veio?
- De onde eu vim não tem muitas florestas e os animais das proximidades são bastante perigosos. - sorriu - E, por favor, não precisa me chamar de senhor. Pode usar só o meu nome.
- Vou tentar me lembrar disso. - deu uma risadinha - Mas... - sua expressão mudou completamente - Você vem do reino em que a Miriam é a rainha... - franziu a testa, pensativo - Pelo que li e as informações que recebi sobre o lugar, há muitas florestas naquela região.
- É verdade que Miraluna tem muitas florestas. - continuava sorrindo, mas tinha um ar de nostalgia em sua expressão - No entanto já faz quase dois anos que não moro mais por lá.
- O senhor não disse que tinha vindo amando de seu pai? - a resposta de Dário havia o confundido - Digo... Você não disse? E... Seu pai sendo o Marques de Codriaz não deveria permanecer na região dele?
- Bem. Acho que não me expressei direito quando cheguei ao castelo de Sobbar...

Antes que qualquer um dos dois pudesse continuar a conversa, o duque, que havia descido de seu cavalo aproximou-se deles e comunicou:

- Vejam ali. - apontou para uma direção do bosque - Um cervo perfeito para começar a caçada. Que tal Vossa Alteza ter a honra de começar? - parecia contente com o achado do animal.
- Oh. Isso foi rápido. - o jovem foi pego de surpresa - Eu posso tentar. - desceu com cuidado de seu cavalo e sacou o arco, puxando uma flecha da grande bolsa presa às suas costas.
- Tenha cuidado Vossa Alteza. - Siro se manifestou, aproximando-se dos três.
-Eu posso fazer isso. - o príncipe concentrou-se no alvo enquanto posicionava sua flecha no arco.

Maxwell demorou um pouco para decidir a posição correta da mira, mas rapidamente soltou a flecha, que foi com velocidade em direção ao animal que estava distante, comendo a grama tranquilamente sem saber do perigo que o aguardava. Mas o jovem príncipe havia errado e o som do impacto da ponta metálica contra a casca de uma árvore alarmou o animal, que correu assustado.

- Errei! - elevou a voz com frustração.
- Eu pego ele. - o duque correu com sua besta na mesma direção que o animal havia ido, sendo seguido por mais dois homens.
- Dário! Eu errei! - repetiu, ao perceber que o seu amigo também havia decido do cavalo e estava ao seu lado.

Não entendendo o silencio de Dário, Maxwell olha em direção a ele e percebe que estava concentrado fitando outra direção, parecendo muito apreensivo.

- O que aconteceu?
- Por favor, fique aqui Vossa Alteza. - o rapaz correu na mesma direção que o duque, deixando os outros para trás.

---

Dominus estava percorrendo a trilha deixada pelo animal, tentando encontrá-lo ou pelo menos algum outro que pudesse caçar. Correu mais um pouco, se desvencilhando de arbustos e galhos mais baixos de arvores até que finalmente encontrou o animal. Mas o cervo que encontrou, o qual há minutos atrás corria para se salvar dos caçadores, estava estirado no chão, morto. Tinha no pescoço várias feridas profundas, todas paralelas entre si.

- Um... Urso fez isso? - o duque, que estava ofegante após a corrida, se questionava em voz alta.

Após analisar a cena, olhou em volta e percebeu que seus homens ainda não haviam o alcançado, o que o deixou irritado. Se realmente fosse um urso ele precisaria de mais homens para abater a fera.

O silencio pareceu tomar conta do lugar, um silencio profundo que Dominus estranhou. No instante seguinte ele pode ouvir um tilintar metálico ecoar pelas árvores à sua volta e um arrepio gelado atravessou sua espinha. Sentiu o medo tomar conta de seu corpo. Quando se virou para o caminho de onde havia vindo, para voltar onde os demais estavam, deparou-se exatamente com aquele que atravessou sua mente ao ouvir o som do metal se chocando.

- O que você--!! - antes que pudesse terminar a frase Alan o derrubou, empurrando-o para trás com a sola do sapato.

No mesmo instante em que o duque caiu, o guarda inclinou-se para frente, com a expressão ameaçadora, porém vazia de sempre. Ergueu ao lado de seu rosto a manopla com as garras de metal que estavam ensanguentadas e as impulsionou em um mergulho na direção do pescoço de Dominus.

O pobre homem não teria tempo de fazer nada, exceto fechar os olhos e erguer o braço na frente do rosto, esperando que as lâminas atravessassem sua carne, no entanto, no lugar da dor ouviu mais um som de metais se chocando muito mais potente do que antes.

- O que está fazendo!? - o duque ouviu a voz de seu amigo bastante alterada e então abriu os olhos, completamente apavorado.

Dominus havia sido salvo por Dário que tinha intervindo no ataque de Alan, desviando a trajetória das garras com a lâmina de seu florete.

O homem que acabara de tentar matar o duque estava imóvel, fitando os olhos daquele que salvara o duque, mas não parecia estar o encarando ameaçadoramente. Era como se estivesse esperando por algo.

- O que houve aqui? - perguntou Dário enquanto apontava sua arma para o pescoço de Alan, que se mantinha parado, longe de parecer uma ameaça, como acontecera minutos atrás.

Apavorado, o duque levantou-se ofegante e com o coração disparado, tentando absorver a situação.

- E-eu sabia que ele era um louco e perigoso! - respirou fundo algumas vezes – De onde ele veio!? - tentou-se manter o mais afastado que conseguiu de Alan.

Os dois homens atrasados que foram atrás de Dominus finalmente chegaram ao local, sem conseguirem compreender o que estava acontecendo.

- Guardas. Prendam-no! - gritou, tentando disfarçar a forte inquietação com a ira que sentia.

Sem pestanejar os dois guardas correram até o sujeito e o derrubaram de joelhos, em seguida amarraram suas mãos atrás das costas com a ajuda de uma corda que costumavam usar para amarrar as caças. Alan não tentou resistir, simplesmente deixou que o prendessem.

- Levem-no para a masmorra!! - gritou ainda mais alto, apontando para a direção em que seu castelo se encontrava, mas percebeu que o braço ainda tremia e o recolheu rapidamente.

Cada um dos guardas segurou o prisioneiro por um braço, arrastando-o todo o caminho de volta para a casa do duque.

- V-você me salvou Dário. - tentava recompor seus pensamentos - Eu posso lhe recompensar... Você... Poderia também fazer parte da minha guarda. -após a frase inspirou profundamente.

Dário riu.

- Vossa Graça, me perdoe, mas eu já faço parte de um exercito. O exercito de um rei.
- O que? Você se alistou ao exercito do rei de Miraluna? - estava confuso - Você serve o rei novato?
- Não, não. - tinha um sorriso malicioso - Eu sirvo outro rei. O rei do Oeste. - fitou os olhos do duque, mantendo o mesmo sorriso.
- Você bateu a cabeça enquanto vinha para cá? O oeste não tem rei. É uma terra sem lei, uma terra de ladrões e assassinos. Ninguém consegue comandar aquilo. - rangeu os dentes - Eles são como este sujeito que acabou de tentar me matar.
- É engraçado como as pessoas do norte e do sul tem informações tão desatualizadas sobre aquela região. - mais uma vez deu uma risada - Há dez anos que todo o oeste é governado por um só homem e seu exercito.
- Do que está falando? - a conversa de Dário havia o deixado perplexo.
- Por que você feriu o rosto da princesa? - a expressão ardilosa de seu rosto ficava ainda mais aparente.
- Você agora está fazendo acusações contra mim? Quer ir para a masmorra também? - Todo o nervosismo do qual havia se esforçado para perder havia voltado.
- É só uma brincadeirinha Vossa Graça. - sorriu - Mas eu não quero nada em troca de ter lhe salvado. - bateu levemente nas costas de Dominus e deu alguns passos na direção dos demais - Vamos Vossa Graça- É melhor voltarmos antes que alguma outra pessoa resolva lhe atacar. - tinha um disfarçado sorriso maldoso.

Com todas as coisas que seu amigo havia dito Dominus já não sabia mais o que pensar sobre ele. Naquele momento estava confuso com os fatos mirabolantes que havia dito, mas não podia ignorar o fato de que Dário havia salvado sua vida.


Continua...

Natalie Bear

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Avisos Importantes

Primeiro aviso é que agora, a partir do capítulo 5, teremos novas postagens com capítulos no máximo duas vezes por semana. Provavelmente terças e sextas. Talvez venha a ocorrer apenas uma atualização em algumas semanas.

O Segundo aviso é quanto ao conteúdo da história. A partir desse novo capítulo 5 haverão ocorrências circunstanciais de palavras de baixo calão e de violência (acredito eu que moderada).

Então posso considerar os leitores avisados! ... Ou assim eu espero!

Obrigada!
Natalie Bear

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Capítulo 4 - Parte 3

Capitulo 4: Os Hóspedes de Sobbar

Parte 3: Olhos Malditos


Mais um dia havia se passado. Mais um dia o Príncipe e a Princesa do reino eram hóspedes do castelo de Sobbar. A tarde estava um pouco mais quente do que as anteriores que haviam passado naquela região, no entanto ainda não era o suficiente para abandonar as roupas de tecido denso. Ambos os irmãos estavam, mais uma vez, reunidos do lado de fora da grande construção que era o castelo do duque. Além dos seus guardas, ao todo sete homens, também estavam acompanhados do filho do Marquês de Codriaz.

- Vossa Alteza está certo de que aquele homem pode lhe ensinar algo? - perguntou Siro, que além de guarda pessoal de Maxwell, também era seu tutor de combate.
- Só poderei saber depois de tentar. - explicou enquanto vestia a proteção de couro para os braços.
- Eu não gosto dessa ideia, Maxwell. Ele já desobedeceu quando mandei que não ferissem um ao outro no duelo de ontem. - suspirou, parecendo preocupada - Eu achava que ele era um subordinado que seguiria qualquer ordem que eu desse, mas começo a acreditar que... – fez uma rápida pausa e olhou na direção do objeto de sua conversa - Talvez ele só seja uma pessoa violenta. - murmurou.
- Eu acho que se ele fosse só um homem violento não teria lhe obedecido ontem, quando mandou que parassem o duelo. Você não concorda? - fitou-a consentindo com sua preocupação.
- Talvez você esteja certo. - trazia o rosto pregueado pela aflição.
- Tente abrandar sua preocupação, Moira. - envolveu sua mão na dele - Não sou mais uma criança pequena para que fique se preocupando tanto comigo.
- Pequeno você é. - deu uma risadinha maldosa - É quase mais baixo que meu ombro!
- Um dia eu vou ser mais alto que você Moira! - fez cara de birra - E nem sou mais baixo que seu ombro!
- Enquanto não for mais alto que eu, você não terá direito de reclamar da minha preocupação com você. – sorria inicentemente, esquecendo-se completamente de seus temores.
- Esta relação me comove. - intrometeu-se Dário, aproximando-se dos dois com um sorriso - Então Vossa Alteza vai mesmo tentar ser aluno do senhor Alan?
- Vou tentar. O senhor e ele parecem ser excelentes guerreiros. - sorria, fitando Dário com seus olhos brilhantes - Eu também quero ser um. Como posso ser um rei se não tiver a capacidade de liderar meu exército? - passou a mão pelos cabelos, pensativos - Terei de obrigar escritores a contarem mentiras sobre minhas glórias. - riu.
- Não iriamos querer isso, não é mesmo Vossa Alteza? - riu junto.
- O senhor às vezes é um tanto intrometido. - disse a princesa, cruzando os braços.
- E como está o rosto, Vossa Alteza? -dirigiu-se a ela gentilmente.
- Ainda está inchado... - seu humor mudou completamente - E ainda dói - tinha um olhar triste enquanto tocava delicadamente sobre a marca vermelha no rosto.
- Moira. Isso não foi feito por um móvel. Não é? - a mudança de humor de sua irmã voltou a preocupá-lo.
- Eu já disse que foi. Por que está duvidando de mim? – cruzou os braços e lançou um olhar irritado sobre Maxwell.
- Oh. Desculpe. – o príncipe baixou a cabeça e percebeu uma sombra surgindo sobre ele, então se virou para ver o que era – Va-! Alan! O senhor já está pronto para tentarmos? – sorriu.

O sujeito meneou positivamente com a cabeça.

- Se ele se ferir de alguma forma... Você já sabe o que lhe acontecerá. – Moira parecia muito aborrecida.
- Nada ruim vai acontecer. – tentou animar sua irmã.

Alan fechou os olhos e inclinou a cabeça levemente para frente, após o gesto, deu às costas para Dário e a princesa, afastando-se. Maxwell o seguiu.

 - O senhor pode me ensinar a usar aquela posição que usou ontem no duelo? – Pediu com muita animação e ansiedade.

O novo instrutor temporário do príncipe girou a cabeça para onde estavam a princesa e seu acompanhante sentados em um banco simples de madeira, observando. Ambos mantinham as mesmas expressões. Moira aborrecida e preocupada com seu irmão e Dário sorrindo, parecendo estar com uma parte da animação do jovem que esperava aprender algo. Nenhum dos dois parecia querer intervir.

Parecendo estar sem pressa, Alan puxou a adaga escondida dentro do colete de couro desgastado que vestia e demonstrou ao seu aluno como era a posição que havia usado no dia anterior.

- Ow! – Maxwell tentava copiar a posição, esforçando-se para fazer igual – Como consegue ficar tão abaixado e ser capaz de desferir um golpe alto e rápido?
- Tenho a impressão que esta é uma postura de combate vindo do oeste. – Dário intrometeu-se.
- Se ele não é do oeste como pode conhecer um estilo de combate de lá? – a afirmação do cavalheiro deixou Moira curiosa.

Em retorno à pergunta da jovem, o rapaz ao seu lado apenas sorriu parecendo não ter a resposta.

O tutor temporário continuou a demonstrar posições de combate às quais utilizava, embora não parecesse que Maxwell estivesse realmente entendendo o modo de utilizá-las para atacar. Era bem diferente das quais estava costumado a ver e das que aprendia nas aulas com Siro.

Depois de algumas tentativas de ensiná-lo, Alan guardou a adaga de volta no interior de seu colete e pegou uma réplica de madeira de uma espada, que estava no chão, não muito longe deles. Girou a arma falsa na mão e a apontou para o príncipe, estabelecendo-se em uma posição de combate mais simples e que exigia que seu corpo ficasse ereto.

- Esta postura eu conheço. - disse Max sem entender o que seu guarda estava fazendo.

Sem dar tempo para o garoto entender, o guerreiro adiantou-se até ele e o atacou com a arma de madeira, o jovem defendeu-se, com sua própria espada de treino, em um movimento de reflexo e foi jogado para trás pela força com que foi atingido.

- O que você está fazendo agora? - a princesa levantou-se revoltada com o acontecido.
- Não. Não foi nada. - Maxwell colocou-se de pé e passou as mãos pela roupa - Eu deveria estar mais concentrado no treino. Se eu estivesse acho que não teria caído. – voltou à posição em que estava antes de ser derrubado – Por favor, continue senhor Alan.

O misterioso guerreiro lançou mais um ataque contra o garoto, que segurou com sua arma de madeira, mas o impacto o fez dar vários passos para trás, além de ter quase perdido o equilíbrio.

- Chega disso! - Moira tentou correr até os dois, entretanto Dário segurou-a pelo pulso, impedindo - Não me toque! - gritou e puxou o braço com força, soltando-se.

O rapaz que tentou a segurar olhava para ela de uma forma diferente, a expressão em seu rosto parecia de surpresa, de inconformidade. A princesa acabou sentindo remorso por ter gritado com ele daquela forma.

- Eu... Eu não queria gritar com você. Eu... - sua explicação foi interrompida por uma voz masculina que quase a fez estremecer.
- O que é isto que está acontecendo aqui?
- Vossa graça. - Dário virou-se com um sorriso para o duque que havia acabado de chegar ao local.

Moira apenas suspirou e baixou a cabeça, enquanto seu irmão se aproximava dos três.

- Ninguém vai me responder a razão de estarem reunidos aqui? - perguntou impaciente.
- Oh. Estamos tentando descobrir se Alan pode me ensinar algumas técnicas de combate. - respondeu o príncipe levemente perturbado com o mau-humor que o duque parecia trazer.
- De novo esse sujeito? - olhou na direção de Alan, que o encarava de maneira ameaçadora, como no dia em que chegaram.
- Vossa graça, por que tanta aversão a este homem? - perguntou o jovem de longos cabelos castanhos enquanto prestava atenção em Moira, logo atrás dele, se portando de forma estranha.
- É o contrário. - explicou, virando-se de costas para Alan - Ele quem tem aversão a mim, olhe o modo como me afronta.
- Não está lhe afrontando. - disse Maxwell - Alan tem esse olhar mesmo. - deu um sorriso amarelo.
- Entendo Vossa Alteza. - tinha uma expressão de desinteresse - Mas prefiro me manter longe do sujeito. - deu uns passos a frente, chegando até Moira, que estava ao lado de Dário - Gostaria que me acompanhasse para uma caminhada. - estendeu a mão para a jovem.

A princesa ergueu a cabeça e fitou o duque parecendo abatida e logo virou o rosto em direção a Dário apenas visualizando-o por um instante e retornando a cabeça rumo ao seu noivo. Após perceber que não tinha escapatória e de dar um suspiro disfarçado, Moira pousou sua mão sobre a dele e o acompanhou, deixando os demais para trás.

Após alguns minutos o jovem príncipe dirigiu a palavra a Dário:

- Perdoe a atitude de minha irmã. Ela não reage muito bem quando alguém a toca repentinamente. - seu olhar deixava clara sua preocupação com a irmã.
- Vossa Alteza não precisa se desculpar comigo. - sorriu - Mas, se me permite a pergunta, por que um toque causa tal reação à princesa? - não disfarçava a curiosidade.
- Meu pai me contou que ela é assim desde que nossa mãe morreu. - baixou a cabeça - Desde que a encontraram...
- A encontraram? - parecia que a preocupação de Max contaminara Dário - Do que Vossa Alteza está falando? - O cavalheiro não demorou a perceber que o príncipe estava muito incomodando com a pergunta - Não quis ser intrometido, perdoe minha audácia. - ajoelhou-se diante do jovem.
- Não há necessidade de se desculpar. - sorriu, disfarçando a apreensão – Não há necessidade de se ajoelhar.

Ao olhar para a esquerda Maxwell percebeu que Alan estava quase ao seu lado, parado, apenas observando os dois.

- Senhor Alan - Dário levantou-se - Me parece que o senhor não é um bom professor afinal. - sorriu 
ardilosamente.

O guerreiro concordou com a cabeça e descartou a réplica da arma, deixando-a cair sobre a grama.

- Eu acho que acabou não dando muito certo. Sem explicações fica um pouco complicado de entender o que quer que eu faça. Desculpe-me pela ideia tola. - o príncipe coçava a cabeça, envergonhado.

Alan tocou rapidamente o topo da cabeça do garoto com a mão que vestia a manopla com garras de metal, então se virou de costas para os dois e se afastou indo embora.

- Ele não era vosso guarda? - perguntou Dário com uma expressão pensativa.
- Sim. - ficou curioso com a pergunta.
- Por que ele está lhe deixando para trás? Ele não deveria ficar aqui para lhe proteger?
- Normalmente Alan prefere fazer seu trabalho de uma posição bem mais distante que os demais guardas. Não sei por que. Bem... - esboçou um sorriso - Ainda tenho Siro, Jonas e Elísio para fazerem minha guarda. - apontou com a cabeça para os três homens que os observavam a uns cinco metros de distancia, parados ali como se fossem estátuas decorando o jardim do duque.

- - -

Moira e o duque caminhavam lado a lado pela região oeste externa do castelo, próximos as arvores de pinos que circundavam boa parte da região e não permitiam que muitos outros tipos de plantas se desenvolvessem.

- Dispense seus guardas. – ordenou o duque, meneando a cabeça para os dois homens de armadura que os seguiam.

A jovem princesa, mesmo contra sua vontade, fez um gesto delicado com a mão, liberando seus guardas do trabalho.

- Pronto. Vossa Graça. – usou um tom irônico.
- Excelente. – deu um sorriso – Agora... – ofereceu o braço à Moira.
- Para que tudo isso? – fitou-o em revolta.
- Apenas aceite.

A princesa acomodou sua delicada mão sobre o braço de Dominus, sentindo-se mal por estar agindo como se houvesse sido domesticada por um dono maquiavélico.

- Quero lhe mostrar que vai gostar de morar por aqui. – explicava o duque enquanto conduzia sua noiva para o lado norte de suas terras.
- Não vou morar aqui. – toda vez que olhava para seu noivo, seus olhos se enxiam de desprezo.
- Claro que vai. Você vai se casar comigo logo e morará conosco. – tentava ser gentil para conseguir que sua noiva o aceitasse.
- Jamais me casarei com alguém como você. – tinha a voz apagada.
- Não fui eu quem fez o acordo com seu pai para este casamento. –soltou sua mão e posicionou-se em sua frente - Eu também não escolhi isso. – fixou os olhos nos dela. – Eu não queria ter danificado sua bela face. – ergueu o braço e tocou o rosto oval de Moira.
- Não toque! – gritou, empurrando o braço do duque para longe, transtornada com a ação dele – Quando meu pai retornar você será condenado pelo que fez!
- Você é arredia demais para uma princesa! – segurou-a com força pelos ombros.
- T-tire as mãos de mim... – Moira abaixou a cabeça e Dominus pôde sentir o corpo dela tremendo.
- O que você tem? – estava intrigado com a reação da jovem.
- Saia! – gritou outra vez, empurrando-o para trás e conseguindo se livrar de suas mãos.
- Quando você for minha esposa vou lhe ensinar a ter mais educação.  – ajeitou o longo casaco azul-escuro.
- Vou para o quarto... – murmurou cabisbaixa, mas quando ia girar o corpo para ir embora seu noivo a segurou pelo antebraço e puxou-a para si.
- Estou cansado de lhe deixar fugir! – alterou sua voz, estava irritado.
- P-por favor!!! – tentou desvencilhar-se dos braços de Dominus, mas era mais fraca que ele.
- Meu pai não deveria ter feito esse maldito acordo! Quem seria capaz de aguentar uma mulher como você? – prendia a princesa envolta por seus braços, já havia perdido a paciência que tentou manter em vão.

De repente a jovem parou de se mover e o duque pôde perceber que soluçava. Ela estava chorando com o rosto apoiado sobre o ombro dele enquanto suas mãos agarravam com toda a força o tecido do casaco.

- Não é tão forte afinal. - murmurou com um sorriso triunfante.

Quase que no mesmo instante que o duque fez seu comentário, também ouviu um tilintar metálico parecendo vir de não muito longe dali. Levantou a cabeça e moveu-a na posição da qual achou que o som vinha.

Há mais ou menos dez metros deles havia a carcaça do que parecia ser uma antiga carroça de cabeça para baixo e quebrada no meio. Mas o que deixou Dominus alarmado era quem estava sentado sobre os escombros, os observando compenetrado a cada movimento.

Alan estava sentado sobre a parte mais elevada da carroça antiga, o corpo curvado para frente, com a cabeça sobre uma das mãos, enquanto a outra, que vestia as garras de metal, se estendia para baixo, com as pontas metálicas batendo sobre a madeira do acento improvisado lentamente, produzindo um som fraco e oco.

- O que você está fazendo ai? - perguntou o duque, irritado.

Moira, ao ouvir a pergunta do noivo, ergueu a cabeça e olhou na mesma direção, encontrando o homem de olhos de cores diferentes os observando, porém estava atordoada e assustada demais para dizer algo, nem mesmo pensava direito.

- Vai ficar aí apenas assistindo como se fosse um espetáculo? - soltou a princesa e virou-se para o sujeito, o afrontando.

O forasteiro tirou os olhos do duque e fitou a jovem, que estava com uma expressão muito assustada, parecia em choque, como se algo terrível houvesse acabado de acontecer diante dela. Aquela visão, seu rosto molhado pelas lágrimas que escorriam dos olhos, o medo neles pareceu o incomodar. Alan sentou-se de maneira ereta e abaixou a cabeça, apontando para longe. Moira deu alguns passos para trás e então se virou correndo de volta pelo caminho de onde veio sem olhar para trás. Pareceu que ele esperou até que ela estivesse bem longe para voltar a erguer a cabeça.

- O que foi isso que acabou de acontecer? - Dominus agora também estava confuso, além de irritado.

Fixou novamente seus olhos peculiares sobre o duque, mas desta vez havia um sorriso sinistro em seus lábios. Para Dominus, era como se Alan estivesse o ameaçando, o desafiando de alguma forma, e essa era uma sensação que o incomodava demais.

- Desapareça da minha frente, criatura infeliz! - ordenou, ficando cada vez mais nervoso com a presença daquele homem.

Mais um som distinto e atordoante pôde ser ouvido. Alan estava arranhando a madeira da carroça com suas garras, destruindo-a, fazendo com que lascas se desprendessem e caíssem no gramado mais alto daquela área.

- Você é um homem louco e perigoso. O príncipe deveria se livrar de você. - após terminar seu comentário final, respirou fundo, encarou o sujeito com ira e foi embora pelo mesmo caminho que a princesa havia ido.

Quando Dominus se retirou, Alan parou de arranhar a madeira e envolveu aquele segmento com a mão, apertando e quebrando-a em pedacinhos. No próximo movimento ele golpeou com a luva sobre o que havia sobrando, fazendo com que o a carroça ficasse com a aparência de um amontoado de madeira sem forma. O guerreiro estava ofegante e nervoso. O braço com a manopla estava apresentando leves tremidas.

Algo estava errado.


Capítulo 4: Fim

Natalie Bear