quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Capítulo 7 - Parte 2

Capítulo 7: Longo Caminho para Casa

Parte 2: Pior Sem Ele


Ian e Moira já estavam caminhando em meio à floresta por pelo menos três horas sem chegar a lugar algum. Naquele trecho as arvores eram mais espaçadas entre si e deixavam que os raios do sol iluminassem a floresta bem melhor.

Mais cedo eles haviam comido uma refeição composta dos peixes que Ian havia pescado. O sabor não era tão adequado ou refinado quanto a comida que Moira estava acostumada a comer, mas naquele momento em que estava faminta já não se importava muito.

- Eu estou cansada de caminhar. – reclamou a princesa que andava a alguns metros de distância do forasteiro – Você não disse nada hoje, voltou a ser mudo? E voltou a fazer essa expressão de estátua?

Ian não a respondeu, apenas seguiu pelo caminho.

- Você não entende! Estou muito preocupada com o Maxwell! – falava alto e gesticulava.

Continuou sem receber resposta alguma dele e o silencio a torturava. Moira sentia que, se ficasse calada, poderia voltar a entrar em pânico. Ela tinha um pavor instintivo de se perder em uma floresta. Algo que ela gostaria de poder controlar, mas nunca fora capaz.

- Afinal o que você pretendia se tornando parte do exército do rei? Você é um espião? E por que aquela mulher de olhos vermelhos queria me matar? – fazia mais e mais perguntas para força-lo a dizer algo - O que eu fiz para ela? Se você é um espião por que se deu ao trabalho de me salvar da explosão? Por que se curvou para mim quando me libertou da prisão? O que você quer? Responda! – gritou ainda mais alto, batendo o pé no chão com força.
- Quero que cale a boca. – respondeu sem se alterar com a jovem e sem parar a caminhada.
- Como você é rude! – esbravejou com irritação, embora estivesse mais aliviada por ter recebido alguma resposta.

Enquanto Moira gesticulava agressivamente para Ian, mesmo sabendo que ele não poderia a ver, sentiu, de repente, algo cobrir rapidamente sua boca e a puxar para trás. Um homem estava a segurando e impedindo que ela falasse. A princesa não conseguia ver quem era, mas estava apavorada. Dois homens se colocaram na frente de Ian quase ao mesmo tempo, forçando-o a parar a caminhada.

- Podem passar tudo o que vocês têm! – disse um deles, que segurava uma longa espada de metal novo.

O forasteiro virou o rosto para trás, vendo que a princesa havia sido pega como refém e tinha uma adaga apontada para a garganta.

- Olha que esquisito os olhos desse aqui! – disse o terceiro homem que estava apontando uma flecha para o peito dele.
Ian fitou os olhos e Moira que suplicavam para que ele reagisse antes que acontecesse algo.
- Está surdo ou quer morrer? – o homem que segurava a espada tinha cabelos negros que caiam sobre a testa e uma grande cicatriz que quase atravessava todo seu rosto.

O sujeito de olhos peculiares deu mais uma olhada na princesa e soltou a bainha da espada do seu cinto.

- A espada é tudo o que eu tenho. – respondeu calmamente.
- Está achando que somos burros? – o ladrão aproximou a espada do pescoço de Ian.
- Talvez ele esteja falando a verdade, olha o estado desses dois... – apontou o homem com o arco, mostrando o quão a dupla estava coberta de barro e com as roupas rasgadas.
 - Cala a boca idiota! – voltou-se para sua vitima – Dê todo o seu dinheiro ou o meu amigo ali fará a vadia sangrar!

Ter sido chamada por aquela palavra a irritou tanto que a jovem princesa, movida pela raiva que atravessou todo seu corpo, mordeu a mão que cobria a sua boca e golpeou as costelas do homem com seu cotovelo, aproveitando que ele, atordoado pela dor, a soltou e correu até seu companheiro de viagem.

- Puta maldita!! – berrou o homem, sacudindo nervosamente a mão que havia sido mordida.

Ian aproveitou a distração que Moira criou e, com um movimento extremamente rápido, cravou as garras metálicas na garganta do homem que empunhava a espada, puxando-o para si e usando-o de escudo para quando o terceiro ladino, por reflexo, lançou sua flecha.

Os dois homens que sobraram estava perplexos com a rapidez de contra-ataque do sujeito de cabelos dourados e por alguns instantes ficaram observando petrificados.

- Mate-os Alan! – a princesa berrou, apontando para o homem com a adaga e sentindo o calor gerado pela emoção tomar conta de seu corpo. Era como se ver seus inimigos caírem diante de si fosse algo muito estimulante e tentador. Exatamente o tipo de poder que ela queria. Um desejo que estava tão escondido dentro de si que Moira nem havia o percebido ainda, mesmo que outra pessoa já houvesse.

O ladrão com o arco tentou atacar mais uma vez, dando vários passos para trás apressadamente enquanto pegava outra flecha da bolsa presa às suas costas, entretanto, antes que conseguisse encaixá-la no arco, o forasteiro pegou a espada do adversário já vencido e enterrou sua lâmina no peito dele.

O sujeito com a adaga entrou em pânico ao ver o quão rápido Ian era e saiu correndo, porém foi facilmente derrubado pelo homem que lhe causava arrepios. Uma flecha disparada do arco do companheiro atravessou seu pescoço e o fez cair. O pobre homem sangrou até a morte. Nunca teve chance alguma.

Moira olhava perplexa para o sujeito que morria afogado no próprio sangue. Sentia-se amedrontada com a visão do homem perdendo lentamente sua vida, porém não conseguia desviar seus olhos. De repente sentiu uma mão apoiar-se em seu ombro e sobressaltou. Ian inclinou-se rapidamente até ter seus lábios muito próximos da orelha da jovem e sussurrou:

- Com prazer, Vossa Alteza.
- O que está fazendo!? – sentiu um arrepio percorrer sua espinha e afastou-se em um salto, irritada.
- Seguindo Vossas ordens. Vossa Alteza pediu que eu os matasse. – olhou para o chão, na direção do primeiro homem que havia matado dentre os três – Me parecem mortos. – sorriu.
- Mas eu também lhe ordenei que não tocasse em mim! – bufou – E por que insistem em usar este tipo de palavreado comigo!? – pousou as mãos sobre a cabeça e inclinou-se para frente – E eles tinham razão! Eu estou imunda e esfarrapada, pareço uma pobre faminta! Parece que não penteio meu cabelo há meses! – reclamava sozinha enquanto seu parceiro de viagem se agachava e revistava os corpos dos homens que haviam acabado de atacá-los – O que está fazendo?
- Compras. – disse seriamente, levantando uma algibeira e produzindo um tilintar bem suave.
- Por favor! Pare de roubar os mortos! – fez uma careta, nauseada pelo ato desrespeitoso dele.
- Eles iam nos roubar. – explicou calmamente, enquanto arrecadava para si as armas dos homens – E não irão mais precisar destes objetos.
- Você é repulsivo! – gritou novamente, muito irritada.
- Continue gritando para chamar mais ladrões. – Virou-se para ela e a fitou maldosamente enquanto guardava os novos pertences adquiridos. – Se estes homens estavam por perto provavelmente estamos próximos a alguma estrada.
- Eles poderiam ter me ferido... – baixou o tom da voz junto com a cabeça.
- Mas agora não podem mais. Vamos. – seguiu pelo caminho em que estava indo anteriormente.

Mesmo cansada da viagem e de tudo o que estava acontecendo, a jovem princesa seguiu-o sem reclamar. Não tinha como escapar da longa viagem.

Depois de quase mais uma hora de caminhada, Ian parou repentinamente, gesticulando para a garota, chamando-a para perto de si.

- O que você está tramando agora? – perguntou desconfiada, se aproximando cautelosamente.
- Encontramos um vilarejo. – sorriu.
- Não é Sempterot. Do que adianta termos encontrado este lugar? – perguntou carrancuda, cruzando os braços.
- Vossa Alteza não queria vestir roupas limpas? – novamente havia malicia em seu sorriso – Podemos conseguir ali.
- Então vamos até lá. Mas também preciso tomar um banho. –adiantou-se, andando à frente de seu companheiro de viagem.

Apesar de pequena, a cidade era bem movimentada. Carroças e cavalos carregando mercadorias, pessoas caminhando pelas ruas, alguns vendedores em suas barracas. Ian encontrou rapidamente a entrada de uma loja pertencente a um alfaiate.

- Olá senhor! – o homem de longa barba grisalha e cabeça lisa olhou para o forasteiro todo sujo com uma expressão perplexa – Boa tarde. – logo viu a jovem que o acompanhava, que estava em um estado tão deplorável quando o homem – Em que posso ajuda-los?
- Roupas. – disse Ian sem delongas – Para a garota também. Masculinas.
- Por que!? – exclamou Moira, revoltada – Você é louco! Recuso-me a vestir roupas de homem!
- Se continuar a viagem com um vestido como este, - apontou para a roupa dela - logo ele também ficará no mesmo estado.
- Vai ser isso mesmo? – perguntou o comerciante.
- Sim. – respondeu enquanto olhava para a princesa, que havia virado o rosto, revoltada com o pedido dele, porém incapaz de discordar.
- Vocês precisam de algo feito sob medida por acaso?
- Não temos tempo para isso. O que encontrar aí para vestirmos está ótimo. – cuidava Moira, que estava do lado de fora, emburrada e observando o movimento na rua, pelo canto do olho.
- Não sei se vou ter algo exatamente do tamanho dela. – o alfaiate procurava por entre várias roupas dobradas em cima de uma prateleira – Provavelmente está é a menor camisa que possuo aqui. – desdobrou uma camisa bege simples e barata.
- Acredito que não tenha problema. – estava com uma expressão severa.

O alfaiate trouxe todas as peças de roupas que ele precisava, uma a uma. Ian o pagou com algumas das moedas que conseguiu com os ladrões e saiu da loja carregando as roupas.

- Terminamos por aqui. – sorriu para Moira, entregando-lhe as peças de roupa que ela iria usar.
- Não estou nem um pouco contente com essa sua liberdade para decidir o que precisamos fazer. – bufou – Você é apenas um serviçal como qualquer outro. Não deveria estar tomando decisões por mim! – lançava um olhar repleto de ódio em sua direção.
- Vossa Alteza... Não se esqueça de que não estamos dentro do seu castelo. – respondeu com um sorriso malicioso.
- É por isso que quando voltarmos para lá você será punido por tudo o que fez para mim!
- Temos apenas poucas horas de luz do dia. – olhava para cima, ignorando completamente o que ela dizia – Será melhor passarmos esta noite no vilarejo.
- Preste atenção no que eu digo!
- Que tal o banho agora? – virou-se para ela com um sorriso, como se Moira não houvesse dito nada.
- Explique-me aonde! – disse rispidamente, já rangendo os dentes de ódio.
- Vem comigo. – começou a locomover-se por entre as pessoas sem esperar pela jovem.

Moira não queria o seguir, mas também não tinha a intensão de ficar para trás e se perder. Não podia se perder dele. Depois de ter de se esgueirar e procurar por Ian entre as pessoas, a princesa finalmente conseguiu o alcançar em uma rua menor que estava vazia.

- Para onde você está indo? – perguntou com muita irritação, enquanto sentia seus pés doendo dentro das botas já estragadas.
- Espere aí. –deu o amontoado de roupas para a princesa segurar mesmo contra a vontade dela e parou atrás de um pequeno templo ali perto que era uma das construções mais altas da cidade.
- Você só está andando por aí sem rumo, não é? – apesar de gritar em revolta havia o obedecido e parado de segui-lo.

O curioso sujeito, sem dar explicação nenhuma, subiu pela parede externa do templo, escalando-o habilmente e utilizando-se das janelas e algumas partes esculpidas com detalhes para apoiar as mãos e os pés. Não levou muito tempo para alcançar uma das torres. Ian a escalou e ficou de pé sobre ela, olhando em volta, parecendo procurar por algo.

As ações dele haviam deixado a princesa perplexa. Por um lado estava sentindo certa admiração pela habilidade de seu companheiro e viagem, mas por outro ainda o odiava com todo seu âmago e admira-lo era algo inaceitável para ela. Porém também estava curiosa com o que o sujeito pretendia ao subir o templo.

- Achei. – mesmo daquela distância Moira podia ver o sorriso sagaz dele – Há um riacho naquela direção. – apontou para o leste.
- Riacho? Está insinuando que eu vou banhar-me em um riacho? – berrou, assustando as poucas pessoas que passavam por perto – É muito frio! Você quer que eu morra congelada!
- Quanto drama. – riu e desceu do templo ainda mais rápido do que subiu, escorregando propositalmente a maior parte do trajeto vertical- Vamos. – passou pela garota e seguiu em direção ao leste.
- Quem você pensa que é para me dar ordens? –havia abaixado o tom de voz, mas ainda estava repleta de ódio enquanto o seguia mais uma vez.

Ian apenas deu uma risada rápida e voltou a ficar quieto.

- Odeio você seu cretino. – murmurou emburrada.

Mais alguns minutos de caminhada e os dois chegaram às margens do riacho, que ficava na entrada de uma floresta densa. O sujeito soltou o pequeno amontoado de roupas sobre a grama e removeu do pescoço primeiro o cachecol desbotado e depois a capa toda rasgada que vestia. Em seguida colocou o arco e uma bolsa de couro, que estava escondida abaixo de sua capa, presa no cinto, ao lado das roupas.

- Pode ir primeiro. – sentou-se no chão e escorou um dos ombros no tronco largo de uma árvore.
- Você está louco se acha que vou me despir e entrar em um riacho ao ar livre. – gesticulava nervosamente enquanto se negava a entrar na água.
- Eu não me importo se Vossa Alteza preferir continuar coberta de lama. – respondia calmamente enquanto esticava os braços se espreguiçando – Vossa Alteza pode entrar na água com o vestido que está usando. –estendeu a mão na direção dela e lhe entregou um objeto branco semitransparente e retangular.
- Um sabonete? – pegou rapidamente da mão dele – Onde conseguiu isso? – examinou.
- Com o alfaiate.

A jovem sabia que a sugestão poderia resolver um de seus problemas, embora ainda tivesse que aguentar a temperatura baixa da água do riacho.

- E seja rápida ou daqui a pouco o sol vai se por e Vossa Alteza vai realmente morrer de frio.

Tudo o que aquele homem dizia era irritante. Ele parecia sempre estar brincando com ela, de alguma forma. Moira bufou algumas vezes antes de resolver ir até a margem do riacho e tomar coragem para enfrentar o frio que a esperava. Sem mais delongas desamarrou o cordão que prendia a grossa capa que vestia e entrou na água- Sentiu o corpo enrijecer com o frio da água, fazendo com que tremesse involuntariamente... Mas a princesa precisava aguentar.

Por mais de quinze minutos Moira suportou a água gelada em seu corpo apenas para conseguir livrar-se de toda a sujeira que havia acumulado desde a prisão até aquele momento e também para deixar seu cabelo o mais limpo que pudesse. Finalmente terminou de lavar-se e saiu correndo da água, ajoelhando-se perto da margem para se recuperar do frio, esperando que o sol a ajudasse.

Sem pressa alguma Ian caminhou até ela e se agachou não muito longe da garota.

- É melhor Vossa Alteza por a roupa nova e seca agora. - Cobriu a cabeça dela com um grande pedaço de tecido de linho – Pode usar isso para se enxugar.
- Saia de perto de mim! – levantou-se rapidamente e se afastou, enquanto enxugava o rosto com a toalha que Ian havia lhe dado.

Ela sentou-se mais afastada e utilizou a toalha para secar primeiramente seu longo e volumoso cabelo. Estava encolhida contra uma árvore e tentando, pelo menos, tirar a água de seu cabelo antes de trocar de roupa e finalmente se livrar de boa parte do frio.

- Vossa Alteza está com o meu sabonete. – Moira ouviu a voz dele e ficou instantaneamente irritada, tirando o tecido de cima da cabeça.
- O q... – a princesa rapidamente percebeu que Ian estava já sem parte da roupa – Dirija-se a mim apenas quando estiver vestido!! – gritou cheia de nervosismo e jogou o sabonete para ele, voltando a cobrir a cabeça com a toalha o mais rápido que pôde.

O homem de cabelos louros apenas riu e se afastou, indo para o riacho.

Apesar de ter passado os olhos muito rapidamente sobre o corpo dele, Moira ainda sim conseguiu enxergar uma grande e curiosa cicatriz que atravessava seu peito transversalmente, entretanto aquela percepção foi algo que logo fugiu de sua mente. Lembrar-se de sua extrema falta de educação ao aparecer daquela forma não era algo que ela gostaria de manter em sua mente.

Quando a jovem acabou de se vestir, não se antes prestar muita atenção ao seu redor para ter certeza de que ninguém estava a observando, percebeu que o sol já estava começando a se por. Sua maior preocupação naquele momento, além do irmão, era como iria passar aquela noite. Seu corpo já estava cansado demais para dormir outra vez sobre o chão duro.  Não sabia o que Ian pretendia, pois jamais estivera em uma cidade – ou vilarejo – antes.

Se Moira passasse mais uma noite dormindo daquela forma seu corpo não aguentaria muito mais.



Continua...

Natalie Bear

5 comentários:

  1. Que fresca ela xDDDDDDD

    Legal esse capítulo xD! Deu pra entender um pouco mais os dois ^^!

    Bjos ^^/

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    1. Daqui em diante frescura é o que não vai faltar nela. XD

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  2. eita, meu comentário nao tinha ido ._.

    fresca fresca fresca! xDD

    e o Ian é maneiro xD~

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  3. Coitado do alfaiate, a final de contas, foi roubado!

    Muito legal os diálogos. xD

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