Parte 4: Paredes à Baixo
Uma mulher de mais de quarenta anos de idade e
cabelos negros trançados, quando estava passando pelo corredor que dava acesso
aos quartos da hospedaria, ouviu um som abafado, parecendo com soluços. Resolveu seguir o ruído, iluminando o caminho à sua frente com a lamparina que
segurava. Não demorou muito para encontrar um jovem garoto sentado e encolhido
em um canto, chorando baixinho, com a cabeça poiada sobre os braços.
- Jovem. Você não é o garoto que estava com
aquele homem de cabelos dourados? – aproximou-se iluminando o garoto à sua
frente – Por que está chorando?
- Não estou chorando. – resmungou, levantando a
cabeça rapidamente para ver a mulher e baixando novamente.
- O seu mestre o mandou dormir no corredor?
- Ele não é meu mestre...
- Então é o que? – a mulher agachou-se perto do
jovem.
- Nada! Eu o odeio! – enxugou o rosto na manga da
camisa bege.
- Venha comigo até o meu quarto. Eu poderei lhe
confortar melhor lá. – estendeu a mão e sorriu.
- Não! – gritou e se levantou – São todos tolos
aqui! – correu pelo corredor, deixando a mulher para trás.
- O que eu faço agora...? – murmurou para si ao
parar na ponta do corredor – As pessoas daqui são burras demais. Jamais vão
entender que eu sou filha do rei... Mesmo que eu ameace mandar matar todos... –
suspirou e encostou a testa na parede de madeira – Aqui está tão frio...
Moira sabia que o quarto estava com uma
temperatura melhor que o corredor, mas tinha medo de voltar lá e encontrar Ian
ainda acordado. Não queria ter de encarar aqueles olhos novamente. Ficou
pensando por mais um tempo, percorrendo os corredores de um lado para o outro
até que finalmente desistiu. Era melhor voltar para lá... Não havia mais nada
que poderia ser feito. A princesa sabia que provavelmente Ian era a única pessoa
em que poderia conferir a tarefa de leva-la de volta para casa. Por menos
confiável que fosse ele já havia a protegido daquela explosão e cuidado dela
quando poderia ter a deixado perdida na floresta. Encontrar outra pessoa
confiável para levar a princesa de volta ao castelo seria muito difícil. Moira
conhecia os perigos existentes do lado de fora das paredes do castelo, mesmo
sempre evitando entrar em contato com o exterior.
Sentindo-se derrotada por sua própria
dependência, a jovem princesa resolveu que o melhor a fazer era voltar para lá
antes que se perdesse ou que algo ruim acontecesse.
Caminhou de volta para a porta e girou a maçaneta
com todo o cuidado, evitando fazer barulho. Se ele estivesse dormindo seria bem
mais vantajoso para ela que continuasse assim. Entrou rapidamente e fechou a
porta, só então foi ver qual era a situação dentro do quarto. A lamparina ainda
estava acesa e no mesmo lugar em que o sujeito havia deixado. Moira olhou para
a cama e percebeu que ele estava lá e parecia dormir. Estava de bruços e
coberto até a metade das costas por um cobertor, mas não vestia camisa. Graças
à luz da lamparina que não estava muito longe, a princesa pôde ver facilmente
de onde estava várias marcas nas costas e braços de Ian. Pelo menos uma era
mais saliente e maior, mas parecia antiga. Ela também enxergou duas manchas que
pareciam queimaduras recentes. Uma era pequena e estava mais próxima do ombro
esquerdo e a outra maior bem mais abaixo, estando meio escondida pelo cobertor.
Não demorou muito para que se questionasse se as queimaduras tinham sido feitas
pela explosão da qual ele havia a salvado.
De repente percebeu que estava olhando a tempo
demais para as costas de Ian e desviou os olhos para a lamparina na mesinha do
outro lado da cama. Estava imaginando se iria ser muito doloroso dormir naquele
chão de madeira do quarto. Até mesmo o solo da floresta era mais agradável do
que aquilo, frio e duro.
A filha do rei não deveria ter que dormir no chão
quando há uma cama em sua frente. Aquele homem tinha muita audácia em fazer
algo assim com ela, pensava Moira. Logo após o pensamento cruzar sua mente, a
jovem percebeu que Ian havia deixado sua adaga sobre a mesinha, ao lado da
lamparina. Aquele objeto à sua disposição lhe deu uma ideia. Não era uma alternativa
muito boa, mas era a única disponível para que Moira pudesse se iludir o
suficiente para arriscar.
Bem
devagar, tentando não fazer nenhum som enquanto caminhava pelo assoalho de
madeira, ela se aproximou da mesinha e pegou a adaga, trazendo para mais perto
do rosto e examinando-a. Era a desculpa que precisava para se convencer a
deitar na cama com aquele homem sem temer que ele a tocasse. Se o fizesse,
Moira iria golpeá-lo com a arma. Qualquer pretexto que lhe permitisse poder
usufruir do conforto da cama, embora provavelmente fosse bem menos macia que a
sua própria, lá no castelo.
- Coloca essa faca de volta na mesa. – Ian
resmungou sem abrir os olhos.
O resmungo do sujeito assustou a princesa, que
acabou deixando a arma cair no chão.
- Está tentando furar o próprio pé? – levantou a
cabeça e fitou a garota.
- Você me assustou! – gritou nervosa – Quase me
feri por sua culpa! – sentou na cama e respirou fundo, tentando se acalmar.
- Da próxima vez não roube armas alheias. –
ajeitou-se na cama e voltou a deitar a cabeça na almofada – Junte e coloque de
volta na mesa.
- Você não manda em mim! – virou a cabeça para
trás – Ah! – Levantou-se de súbito e acabou anulando todo o esforço que tinha
feito para se acalmar – Espero que não esteja despido debaixo desse cobertor!
- Estou. –sorriu e apoiou-se sobre os ombros,
levantando um pouco o tronco de cima da cama.
- N-Não saia daí! – recuou, levantando o braço
quase na altura do rosto.
- Estou brincando. – riu – Ainda estou vestindo
calcas.
- Odeio você... – murmurou.
Ian levantou-se da cama e contornou-a, juntando a
adaga do chão e a colocando de volta na mesa.
- Vossa Alteza foi pedir outro quarto? – parou de
frente para ela, deixando que visse as várias cicatrizes que tinha no corpo.
- Não... – respondeu baixinho, desta vez não
conseguia tirar os olhos da grande cicatriz transversal em seu peito.
- Isto aqui lhe atrai? – passou os dedos sobre a
cicatriz.
- Não! –exclamou e levantou os olhos para o rosto
dele, sentindo-se constrangida.
- Vossa Alteza. – esboçou um sorriso maldoso no
canto da boca – Se eu pretendesse abusar de você eu já teria o feito ainda lá
na floresta, onde não havia ninguém para atrapalhar. Então deite naquela cama e
durma. – gesticulou em direção à cama.
- Tenha respeito ao falar comigo! – esbravejou,
gesticulando nervosamente – Estou cansada dessa sua falta de respeito! E eu que
achava que você seria um servo obediente...!
- Vossa Alteza deseja que eu seja obediente? –
aproximou-se um pouco mais dela, fazendo com que a princesa reagisse dando um
passo para trás – Hoje não. Vamos dormir e amanha vemos isso. – sorriu e deu as
costas para ela.
- Pare de brincar comigo... – suspirou e jogou a
cabeça para trás - Escute. Eu entendi que se você quisesse podia ter me deixado
para morrer na floresta. Que não teria nem me salvado da explosão, afinal, essa
queimadura nas suas costas... Foi por causa de todo aquele fogo, não é?
- Suponho que sim. – voltou a deitar-se de bruços
na cama enquanto ouvia o discurso da princesa.
- Só que não entendo por que você o fez, mas me
trata como se eu que fosse a sua criada! Eu sou a princesa! Você é o criado!
Não faz sentido. – baixou a cabeça e pousou suas mãos sobre ela.
- Chega de conversa por hoje ou logo vai
amanhecer e Vossa Alteza não terá dormido nada. Ainda precisamos viajar até a
sua cidade. – enterrou a cabeça na almofada – E deixe a adaga onde está. – a
voz saiu bastante abafada.
Moira deu outro suspiro. Já estava muito cansada
e realmente precisava dormir, mas sabia que se sentiria ainda mais constrangida
se deitasse ao lado dele. Ian só fazia com que ela provasse da humilhação e
derrota o tempo todo, sentimentos que a princesa detestava. Mas não era o momento
de brigar. Precisava recuperar as energias para conseguir o fazer. Tentando não
pensar muito mais no assunto, Moira se aproximou da cama, soltou a capa que
vestia, deixando-a escorregar para o chão e sentou-se do lado que estava vazio,
próximo a lamparina. Quase sem vontade e já sentindo seus músculos protestarem,
ela removeu as botas de seus delicados pés. Em seguida desfivelou o cinto e o
colocou sobre a mesinha. Após remover o colete de couro de baixa qualidade, destrançou
o longo e volumoso cabelo castanho-claro e o penteou com os dedos. Estava de
costas para Ian, mas podia sentir seus olhos sobre ela, o que estava deixando-a
nervosa.
- O que está tramando? – girou um pouco o tronco
e fitou seu rosto, constatando que ainda estava acordado e realmente olhando na
direção dela.
- Nada. Eu gosto do seu cabelo solto. – esboçou
um sorriso.
- Pare com isso! – pegou a almofada do seu lado
da cama e jogou sobre a cabeça dele.
Após levar a almofadada ele simplesmente tirou o
objeto de cima de sua cabeça e pousou-o sobre o que já estava usando, deitando
sobre ele.
- Devolva! – bateu com a mão sobre a cama.
- Jogou para mim. Agora é meu. – acomodou-se no
travesseiro tranquilamente.
- Saia de cima! – levantou as pernas para cima da
cama e virou-se completamente para ele – Você já tem o seu! Pare de me
atazanar! – quase levou as mãos à almofada, mas recuou, temendo como ele
reagiria.
- Implore.
- Não vou implorar! – desistiu de sua cautela e
agarrou a borda da almofada.
Deu um puxão com toda sua forca, mas naquele
mesmo instante Ian havia soltado o objeto e o excesso de forca que a princesa
usou a fez jogar o corpo para trás, caindo da cama. O homem de cabelos
dourados, segurou-a pelo pulso antes que caísse e a puxou agressivamente de
volta para a cama, fazendo-a bater com o rosto no colchão onde antes ele estava
deitado.
- Não dá para ficar quieta? – ele perguntou,
enquanto a jovem estava caída atravessada na cama e ele de joelhos ao lado dela
– Se não quiser dormir tudo bem, mas não irei lhe carregar amanhã quando
estiver quase dormindo em pé.
- Bruto! Isso doeu! – ergueu o corpo e sentou-se
na cama, levando uma das mãos ao rosto – É sua culpa por ter roubado minha
almofada! – sacudia com irritação o objeto que havia acabado de recuperar.
- Vossa Alteza já está com ela. – segurou o braço
da princesa que se movia compulsivamente.
- Me solta. – puxou o braço de volta e largou a
almofada onde era seu lugar.
- Então boa noite Vossa Alteza. – aproveitou que
ela saiu de seu lugar e voltou a se deitar, ajeitando as cobertas sobre o
corpo. – E sai de cima do cobertor.
- Não vou dar boa noite para alguém como você. –
entrou embaixo do cobertor e deitou a cabeça na almofada, se esforçando para
esquecer que havia um homem ao seu lado.
- Como quiser.
Moira havia se encolhido o mais distante que
conseguia de Ian, mesmo assim estava nervosa demais para conseguir dormir. Já o
sujeito estava acomodado relaxadamente sobre a cama, ignorando completamente a
presença da jovem ao seu lado.
A jovem estava tão transtornada que até mesmo a
lembrança dolorosa de não saber como seu irmão mais novo estava havia
abandonado sua mente momentaneamente. Ela precisou de muitos minutos para
finalmente se render ao cansaço e cair no sono para dormir pesadamente o resto
da noite.
Capítulo 7: Fim
Natalie Bear
Natalie Bear
LOL! Essa Moira só faz barulho hahahahaha xDDDDD.
ResponderExcluirFicou bom essa briga deles xDDDDD!
Parabéns pelo texto ^^/
Oh! Obrigada XD.
Excluiraheuaijehajeuhae ai céus, essa moira é engraçada
ResponderExcluirmas tadinha dela, com um homem bonitão e todo muscoloso com cicatrizes pelo corpo na mesma cama que ela ~ coitada aheajeihaej
esse Ian tbm, é um safadão ~ gosto dele :)
Eu diria que aos olhos dela, por ele ser só um "empregado" do rei, o Ian nem é "bonitão". kkkkkkkkkk
ExcluirxDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDD
ResponderExcluirÓtimos diálogos. xD