quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Capítulo 7 - Parte 4

Capítulo 7: Longo Caminho para Casa

  Parte 4: Paredes à Baixo




Uma mulher de mais de quarenta anos de idade e cabelos negros trançados, quando estava passando pelo corredor que dava acesso aos quartos da hospedaria, ouviu um som abafado, parecendo com soluços. Resolveu seguir o ruído, iluminando o caminho à sua frente com a lamparina que segurava. Não demorou muito para encontrar um jovem garoto sentado e encolhido em um canto, chorando baixinho, com a cabeça poiada sobre os braços.

- Jovem. Você não é o garoto que estava com aquele homem de cabelos dourados? – aproximou-se iluminando o garoto à sua frente – Por que está chorando?
- Não estou chorando. – resmungou, levantando a cabeça rapidamente para ver a mulher e baixando novamente.
- O seu mestre o mandou dormir no corredor?
- Ele não é meu mestre...
- Então é o que? – a mulher agachou-se perto do jovem.
- Nada! Eu o odeio! – enxugou o rosto na manga da camisa bege.
- Venha comigo até o meu quarto. Eu poderei lhe confortar melhor lá. – estendeu a mão e sorriu.
- Não! – gritou e se levantou – São todos tolos aqui! – correu pelo corredor, deixando a mulher para trás.
- O que eu faço agora...? – murmurou para si ao parar na ponta do corredor – As pessoas daqui são burras demais. Jamais vão entender que eu sou filha do rei... Mesmo que eu ameace mandar matar todos... – suspirou e encostou a testa na parede de madeira – Aqui está tão frio...

Moira sabia que o quarto estava com uma temperatura melhor que o corredor, mas tinha medo de voltar lá e encontrar Ian ainda acordado. Não queria ter de encarar aqueles olhos novamente. Ficou pensando por mais um tempo, percorrendo os corredores de um lado para o outro até que finalmente desistiu. Era melhor voltar para lá... Não havia mais nada que poderia ser feito. A princesa sabia que provavelmente Ian era a única pessoa em que poderia conferir a tarefa de leva-la de volta para casa. Por menos confiável que fosse ele já havia a protegido daquela explosão e cuidado dela quando poderia ter a deixado perdida na floresta. Encontrar outra pessoa confiável para levar a princesa de volta ao castelo seria muito difícil. Moira conhecia os perigos existentes do lado de fora das paredes do castelo, mesmo sempre evitando entrar em contato com o exterior.

Sentindo-se derrotada por sua própria dependência, a jovem princesa resolveu que o melhor a fazer era voltar para lá antes que se perdesse ou que algo ruim acontecesse.

Caminhou de volta para a porta e girou a maçaneta com todo o cuidado, evitando fazer barulho. Se ele estivesse dormindo seria bem mais vantajoso para ela que continuasse assim. Entrou rapidamente e fechou a porta, só então foi ver qual era a situação dentro do quarto. A lamparina ainda estava acesa e no mesmo lugar em que o sujeito havia deixado. Moira olhou para a cama e percebeu que ele estava lá e parecia dormir. Estava de bruços e coberto até a metade das costas por um cobertor, mas não vestia camisa. Graças à luz da lamparina que não estava muito longe, a princesa pôde ver facilmente de onde estava várias marcas nas costas e braços de Ian. Pelo menos uma era mais saliente e maior, mas parecia antiga. Ela também enxergou duas manchas que pareciam queimaduras recentes. Uma era pequena e estava mais próxima do ombro esquerdo e a outra maior bem mais abaixo, estando meio escondida pelo cobertor. Não demorou muito para que se questionasse se as queimaduras tinham sido feitas pela explosão da qual ele havia a salvado.

De repente percebeu que estava olhando a tempo demais para as costas de Ian e desviou os olhos para a lamparina na mesinha do outro lado da cama. Estava imaginando se iria ser muito doloroso dormir naquele chão de madeira do quarto. Até mesmo o solo da floresta era mais agradável do que aquilo, frio e duro.

A filha do rei não deveria ter que dormir no chão quando há uma cama em sua frente. Aquele homem tinha muita audácia em fazer algo assim com ela, pensava Moira. Logo após o pensamento cruzar sua mente, a jovem percebeu que Ian havia deixado sua adaga sobre a mesinha, ao lado da lamparina. Aquele objeto à sua disposição lhe deu uma ideia. Não era uma alternativa muito boa, mas era a única disponível para que Moira pudesse se iludir o suficiente para arriscar.

 Bem devagar, tentando não fazer nenhum som enquanto caminhava pelo assoalho de madeira, ela se aproximou da mesinha e pegou a adaga, trazendo para mais perto do rosto e examinando-a. Era a desculpa que precisava para se convencer a deitar na cama com aquele homem sem temer que ele a tocasse. Se o fizesse, Moira iria golpeá-lo com a arma. Qualquer pretexto que lhe permitisse poder usufruir do conforto da cama, embora provavelmente fosse bem menos macia que a sua própria, lá no castelo.

- Coloca essa faca de volta na mesa. – Ian resmungou sem abrir os olhos.

O resmungo do sujeito assustou a princesa, que acabou deixando a arma cair no chão.

- Está tentando furar o próprio pé? – levantou a cabeça e fitou a garota.
- Você me assustou! – gritou nervosa – Quase me feri por sua culpa! – sentou na cama e respirou fundo, tentando se acalmar.
- Da próxima vez não roube armas alheias. – ajeitou-se na cama e voltou a deitar a cabeça na almofada – Junte e coloque de volta na mesa.
- Você não manda em mim! – virou a cabeça para trás – Ah! – Levantou-se de súbito e acabou anulando todo o esforço que tinha feito para se acalmar – Espero que não esteja despido debaixo desse cobertor!
- Estou. –sorriu e apoiou-se sobre os ombros, levantando um pouco o tronco de cima da cama.
- N-Não saia daí! – recuou, levantando o braço quase na altura do rosto.
- Estou brincando. – riu – Ainda estou vestindo calcas.
- Odeio você... – murmurou.

Ian levantou-se da cama e contornou-a, juntando a adaga do chão e a colocando de volta na mesa.

- Vossa Alteza foi pedir outro quarto? – parou de frente para ela, deixando que visse as várias cicatrizes que tinha no corpo.
- Não... – respondeu baixinho, desta vez não conseguia tirar os olhos da grande cicatriz transversal em seu peito.
- Isto aqui lhe atrai? – passou os dedos sobre a cicatriz.
- Não! –exclamou e levantou os olhos para o rosto dele, sentindo-se constrangida.
- Vossa Alteza. – esboçou um sorriso maldoso no canto da boca – Se eu pretendesse abusar de você eu já teria o feito ainda lá na floresta, onde não havia ninguém para atrapalhar. Então deite naquela cama e durma. – gesticulou em direção à cama.
- Tenha respeito ao falar comigo! – esbravejou, gesticulando nervosamente – Estou cansada dessa sua falta de respeito! E eu que achava que você seria um servo obediente...!
- Vossa Alteza deseja que eu seja obediente? – aproximou-se um pouco mais dela, fazendo com que a princesa reagisse dando um passo para trás – Hoje não. Vamos dormir e amanha vemos isso. – sorriu e deu as costas para ela.
- Pare de brincar comigo... – suspirou e jogou a cabeça para trás - Escute. Eu entendi que se você quisesse podia ter me deixado para morrer na floresta. Que não teria nem me salvado da explosão, afinal, essa queimadura nas suas costas... Foi por causa de todo aquele fogo, não é?
- Suponho que sim. – voltou a deitar-se de bruços na cama enquanto ouvia o discurso da princesa.
- Só que não entendo por que você o fez, mas me trata como se eu que fosse a sua criada! Eu sou a princesa! Você é o criado! Não faz sentido. – baixou a cabeça e pousou suas mãos sobre ela.
- Chega de conversa por hoje ou logo vai amanhecer e Vossa Alteza não terá dormido nada. Ainda precisamos viajar até a sua cidade. – enterrou a cabeça na almofada – E deixe a adaga onde está. – a voz saiu bastante abafada.

Moira deu outro suspiro. Já estava muito cansada e realmente precisava dormir, mas sabia que se sentiria ainda mais constrangida se deitasse ao lado dele. Ian só fazia com que ela provasse da humilhação e derrota o tempo todo, sentimentos que a princesa detestava. Mas não era o momento de brigar. Precisava recuperar as energias para conseguir o fazer. Tentando não pensar muito mais no assunto, Moira se aproximou da cama, soltou a capa que vestia, deixando-a escorregar para o chão e sentou-se do lado que estava vazio, próximo a lamparina. Quase sem vontade e já sentindo seus músculos protestarem, ela removeu as botas de seus delicados pés. Em seguida desfivelou o cinto e o colocou sobre a mesinha. Após remover o colete de couro de baixa qualidade, destrançou o longo e volumoso cabelo castanho-claro e o penteou com os dedos. Estava de costas para Ian, mas podia sentir seus olhos sobre ela, o que estava deixando-a nervosa.

- O que está tramando? – girou um pouco o tronco e fitou seu rosto, constatando que ainda estava acordado e realmente olhando na direção dela.
- Nada. Eu gosto do seu cabelo solto. – esboçou um sorriso.
- Pare com isso! – pegou a almofada do seu lado da cama e jogou sobre a cabeça dele.

Após levar a almofadada ele simplesmente tirou o objeto de cima de sua cabeça e pousou-o sobre o que já estava usando, deitando sobre ele.

- Devolva! – bateu com a mão sobre a cama.
- Jogou para mim. Agora é meu. – acomodou-se no travesseiro tranquilamente.
- Saia de cima! – levantou as pernas para cima da cama e virou-se completamente para ele – Você já tem o seu! Pare de me atazanar! – quase levou as mãos à almofada, mas recuou, temendo como ele reagiria.
- Implore.
- Não vou implorar! – desistiu de sua cautela e agarrou a borda da almofada.

Deu um puxão com toda sua forca, mas naquele mesmo instante Ian havia soltado o objeto e o excesso de forca que a princesa usou a fez jogar o corpo para trás, caindo da cama. O homem de cabelos dourados, segurou-a pelo pulso antes que caísse e a puxou agressivamente de volta para a cama, fazendo-a bater com o rosto no colchão onde antes ele estava deitado.

- Não dá para ficar quieta? – ele perguntou, enquanto a jovem estava caída atravessada na cama e ele de joelhos ao lado dela – Se não quiser dormir tudo bem, mas não irei lhe carregar amanhã quando estiver quase dormindo em pé.
- Bruto! Isso doeu! – ergueu o corpo e sentou-se na cama, levando uma das mãos ao rosto – É sua culpa por ter roubado minha almofada! – sacudia com irritação o objeto que havia acabado de recuperar.
- Vossa Alteza já está com ela. – segurou o braço da princesa que se movia compulsivamente.
- Me solta. – puxou o braço de volta e largou a almofada onde era seu lugar.
- Então boa noite Vossa Alteza. – aproveitou que ela saiu de seu lugar e voltou a se deitar, ajeitando as cobertas sobre o corpo. – E sai de cima do cobertor.
- Não vou dar boa noite para alguém como você. – entrou embaixo do cobertor e deitou a cabeça na almofada, se esforçando para esquecer que havia um homem ao seu lado.
- Como quiser.

Moira havia se encolhido o mais distante que conseguia de Ian, mesmo assim estava nervosa demais para conseguir dormir. Já o sujeito estava acomodado relaxadamente sobre a cama, ignorando completamente a presença da jovem ao seu lado.

A jovem estava tão transtornada que até mesmo a lembrança dolorosa de não saber como seu irmão mais novo estava havia abandonado sua mente momentaneamente. Ela precisou de muitos minutos para finalmente se render ao cansaço e cair no sono para dormir pesadamente o resto da noite.


Capítulo 7: Fim

  Natalie Bear

5 comentários:

  1. LOL! Essa Moira só faz barulho hahahahaha xDDDDD.

    Ficou bom essa briga deles xDDDDD!
    Parabéns pelo texto ^^/

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  2. aheuaijehajeuhae ai céus, essa moira é engraçada
    mas tadinha dela, com um homem bonitão e todo muscoloso com cicatrizes pelo corpo na mesma cama que ela ~ coitada aheajeihaej

    esse Ian tbm, é um safadão ~ gosto dele :)

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    1. Eu diria que aos olhos dela, por ele ser só um "empregado" do rei, o Ian nem é "bonitão". kkkkkkkkkk

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  3. xDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDD

    Ótimos diálogos. xD

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